As invasões das terras dos Waimiri Atroari em Roraima

waimiri atroari

Na última 6ª feira, o deputado estadual de Roraima, Jeferson Alves, armado de motosserra e alicate, cortou a corrente que marca o início da Terra Indígena dos Waimiri Atroari na estrada que liga Boa Vista a Manaus. No sábado, a justiça mandou recolocar a corrente e ordenou que seja garantida a segurança do local.

A matéria de André Borges, do Estadão, lembra que “há décadas, o bloqueio da BR-174 ocorre diariamente, das 18h às 6h da manhã, no trecho da reserva indígena Waimiri Atroari. Durante o bloqueio, só é autorizada a passagem de ônibus de linha interestadual, caminhões com cargas perecíveis e ambulâncias. O controle é realizado para proteger animais e os próprios Povos de atropelamentos. A iniciativa de controlar o tráfego na BR-174 partiu do Exército, quando ainda era responsável pelos postos de vigilância.”

Esta foi apenas a mais recente e ostensiva tentativa de invadir Terras Indígenas.

Bernardo Mello Franco, n’O Globo, também comentou o episódio.

Fabiano Maisonnave, da Folha, conta que “há décadas, políticos locais da região da Amazônia mantêm ligações com infratores ambientais, grileiros e invasores de Terras Indígenas. Com a ascensão de Jair Bolsonaro (sem partido), crítico das leis ambientais e da fiscalização feita pelo Ibama, alguns passaram a defender abertamente ações criminosas e a atacar agentes do estado”.

Em outra matéria, Maisonnave relata que a Terra Indígena Raposa Serra do Sol também está sendo invadida pelo garimpo ilegal de larga escala. Matias Silva de Souza, Tuxaua (liderança) da Comunidade Raposa 2, gravou um áudio dizendo que “a minha comunidade vem sofrendo a poluição de igarapés e lagos e está dividida. Já vemos intriga na Comunidade por causa desse garimpo, mesmo sabendo que isso não vai trazer o bem.” Em outro trecho, o Tuxaua denuncia que “os indígenas estão trabalhando como escravos. Há jovens estudantes trabalhando e enriquecendo os donos dos moinhos. Eu, como Tuxaua, penso no futuro das crianças, no bem-estar da minha sociedade, dos animais”.

Como em outros lugares, um político apareceu no garimpo. Conta Maisonnave que, “há cerca de um mês, o senador Chico Rodrigues, esteve no garimpo, onde gravou um vídeo ao lado de indígenas que apoiam a atividade. Ali o senador disse que ‘é um trabalho fabuloso, onde dezenas, centenas de famílias estão aqui tirando da terra o que Deus nos deu como herança’”.

Em tempo: Como se não bastasse, no final de semana, o ministério de minas e energia soltou uma nota dizendo que o novo decreto de Bolsonaro cria as condições para a construção de 40 hidrelétricas em Terras Indígenas. O decreto autoriza que as obras sejam feitas sem precisar do consentimento de seus Povos. Juliana Batista, do ISA, disse ao O Globo: “Uma hidrelétrica atrai de 5 mil a 20 mil trabalhadores. Como é que os índios, que são comunidades altamente vulneráveis e que têm cultura específica, vão conviver dentro do seu território com 5 mil, 15 mil, 20 mil trabalhadores? Imagina o impacto social, cultural, ambiental de tudo isso”.

 

ClimaInfo, 2 de março de 2020.

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