Será o valor da vida humana maior na China que no Brasil e nos EUA?

26 de março de 2020

Em meados de janeiro, quando tomou consciência da explosividade do coronavírus, o governo central chinês impôs a supressão como meio de conter a epidemia. Agora, pouco mais de 2 meses depois, o mesmo governo começa a aliviar as medidas drásticas tomadas e, aos poucos, a economia chinesa volta a funcionar.

Martin Wolf, na sua coluna no Financial Times, compara a decisão chinesa com os discursos voltados à proteção da economia feitos pelos governos dos EUA e do Reino Unido: “Seria uma calamidade sanitária inaceitável na China, mas aceitável no Reino Unido e nos EUA?”.

Wolf recomenda a supressão e não o isolamento vertical, desde que por um tempo curto e com o governo tomando medidas decisivas para não fechar empresas, não aumentar o desemprego e garantir os meios de sobrevivência de toda a população.

Ele reconhece que os países ricos não terão grandes obstáculos para seguir a receita. Os mais pobres terão sim, muitos problemas. Até agora, ele afirma, os mercados transferiram quase US$ 100 bilhões dos países emergentes para locais mais seguros. Muitos desses países dependem da exportação de commodities, cuja demanda e preço caíram.

Wolf diz que “o vírus é um desafio compartilhado. Assim, também, é a próxima recessão global. A praticidade e as exigências de solidariedade justificam ajudas generosas.” Uma ajuda financeira, claro, mas necessariamente complementada por equipes médicas, equipamentos e materiais. Trata-se de “um desafio prático que deve ser enfrentado com decisões bem fundamentadas. Mas é também um desafio ético. Devemos reconhecer ambos os aspectos das decisões que devemos tomar.”

Em tempo 1: Vários termos estão surgindo para caracterizar as diferentes alternativas de enfrentamento da pandemia. A supressão parece significar o mesmo que isolamento horizontal ou simplesmente baixar a ordem para todo mundo ficar em casa. A mitigação e o isolamento vertical são variantes nas quais partes da população são obrigadas a permanecer em casa, enquanto boa parte da economia continua funcionando como antes.

Em tempo 2: O Globo conversou com economistas brasileiros. O ex-ministro Maílson da Nóbrega foi seco: “O presidente parece dar a impressão de que prefere contar os mortos do que contar os desempregados”. Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, inverteu o discurso do presidente: “Se a gente permitir que epidemia saia de controle, as consequências econômicas podem ser, inclusive, piores.” Armínio Fraga e Mônica de Bolle dirigem o olhar para o “conjunto enorme de pessoas no país que vivem com rendas muito baixas, vivem na informalidade e é preciso tratar delas nesse momento.” De Bolle acrescenta que “o que o governo deveria fazer é articular o pacote a ser dado de assistência à população e à economia de forma geral como o que vários países estão fazendo (…) Há toda uma rede de proteção social que precisa ser reforçada e o Brasil está perdendo um tempo precioso neste momento.”

 

ClimaInfo, 26 de março de 2020.

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