Visões do mundo pós-pandemia

pandemia futuro

Nos últimos dias diversos artigos trouxeram visões interessantes, otimistas e nem tanto, sobre o futuro pós-pandemia da COVID-19.

No Daily Mail, Geoffrey Lean afirma que “decisões iminentes podem determinar se o mundo abraça a enorme oportunidade de prosperidade com baixo teor de carbono e em harmonia com o meio ambiente ou tenta voltar ao antigo status quo insustentável. Os vastos pacotes de estímulo que estão sendo preparados agora devem garantir que as indústrias assistidas criem valor público em troca. Uma empresa de automóveis resgatada pode ser obrigada a acelerar a produção de veículos elétricos, uma companhia aérea a usar combustível com baixo teor de carbono.”

Lean lembra que há três anos uma comissão internacional dos principais líderes empresariais identificou £ 9,8 trilhões em oportunidades em desenvolvimento sustentável e verde. Muitas empresas já estão sendo pioneiras nessa transformação. “A economia, como a COVID-19 deixou dolorosamente claro, é uma subsidiária integral do meio ambiente, dependente de sistemas naturais saudáveis. E o investimento verde é cada vez mais reconhecido como o melhor caminho para a prosperidade”, conclui. Porém, ele alerta que as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa programadas para 2050 podem chegar tarde demais e que a crise climática poderá liberar outros vírus congelados em áreas que estão agora derretendo, além de provocar catástrofes já observadas, como os recentes incêndios na Austrália.

Em artigo para a Euroactiv, Annika Hedberg, Diretora do Programa Prosperidade Sustentável para a Europa no European Policy Center (EPC), um think tank baseado em Bruxelas, Bélgica, reforça a necessidade de aliar condicionantes verdes aos planos de recuperação econômica: “É hora de parar de subsidiar práticas que são evidentemente prejudiciais ao bem-estar das pessoas, à saúde, ao meio ambiente e ao clima – pecuária e combustíveis fósseis sendo um exemplo disso. A atual desaceleração poderia, sem dúvida, proporcionar uma ocasião valiosa para os formuladores de políticas e empresas orientarem e permitirem que cidadãos e consumidores adotem hábitos mais sustentáveis e saudáveis, que podem durar além da pandemia. Muitos já devem ter descoberto que hábitos com menor pegada ambiental e climática são possíveis”.

Nesse caldeirão de boas intenções, Dani Rodrik, professor de Política Econômica Internacional na Escola de Governo John F. Kennedy, da Universidade de Harvard, e autor de Straight Talk on Trade: Ideas for a Sane World Economy, joga um balde de água fria nesta conversa. Ele acredita que a atual crise exacerbou as características dominantes da política de cada país, o que sugere que a crise poderá não ser o divisor de águas na política e na economia globais que muitos têm almejado. Ao invés de colocar o mundo em uma trajetória significativamente diferente, é provável que as tendências atuais se intensifiquem: “Aqueles que querem mais bens públicos e do governo terão muitas razões para pensar que a crise justifica sua crença. E aqueles que são céticos em relação ao governo e criticam sua incompetência também terão suas visões anteriores confirmadas. Aqueles que querem mais governança global defenderão que um regime internacional de saúde pública mais forte poderia ter reduzido os custos da pandemia. E aqueles que buscam Estados-nação mais fortes apontam para as várias maneiras pelas quais a OMS parece ter gerenciado mal sua resposta.”

Para Rodrik, “o neoliberalismo continuará sua morte lenta. Os autocratas populistas se tornarão ainda mais autoritários. A hiperglobalização permanecerá na defensiva à medida que os Estados-nação recuperarem o espaço político. China e EUA continuarão em rota de colisão. E a batalha dentro dos Estados-nação entre oligarcas, populistas autoritários e internacionalistas liberais se intensificará.”

Em entrevista ao El País, Bertrand Badie, cientista político especialista em globalização, professor emérito no Science Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris) e pesquisador associado ao Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais (CERI), mostra-se cético sobre a conciliação da agenda climática com a reconstrução da economia pós-pandemia: “Após essa crise, os Estados Unidos podem investir muito para reconstruir a economia global. Aceitar gastar e investir muito pelo clima, ou seja, acrescentar gastos aos gastos? Sou bem pessimista.”

 

 

ClimaInfo, 8 de abril de 2020.

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