O que significa petróleo a preços negativos?

preço do petróleo negativo

O preço do barril de petróleo continua despencando e contratos foram fechados com ele bem abaixo de zero, ou seja, pela primeira vez na história, segundo o Financial Times, o produtor pagou para alguém levar o petróleo embora.

A primeira pitada de sal é que esses preços são para contratos muito a curto prazo. Os contratos a partir de junho também caíram, mas se mantiveram acima dos US$ 20.

O que começou como uma guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia virou um desastre fora de proporções para o setor. Os países produtores reduziram a produção, mas ela ainda está bem acima da demanda global. Os preços negativos desses dias refletem o quase esgotamento da capacidade de estocagem nos EUA e uma produção que, neste momento, excede em 20% a demanda das refinarias.

O Market Watch, site de análise do mercado, publicou uma lista de empresas bastante expostas, algumas das quais “não sobreviverão até o final do ano”. Entre elas, operações de gigantes como a Occidental e a Marathon, e empresas de serviços como a Halliburton.

Trump achou que tinha salvo o setor ao patrocinar um acordo entre a Arábia Saudita e a Rússia e, segundo o Politico, estaria estudando pagar para produtores pararem de operar. Um desses produtores não levou a sério e avisou que uma onda de falências está a caminho.

A notícia esteve nas manchetes dos principais veículos no mundo todo, como CNN, CNBC, Time, Oil Price, The Guardian, Dow Jones, Reuters, New York Times. Por aqui, vale ver as matérias da Folha, Valor, O Globo e do Estadão.

David Roberts, do Vox, alerta que, dada o golpe e a instabilidade do setor, o governo dos EUA não deve incluí-lo em seus programas de salvatagem da economia. Roberts diz que a crise atual exacerba a fragilidade da exploração do petróleo e do gás de folhelho, o pilar da Dominância Energética alardeada por Trump. Se e quando ocorrer, a onda de falências anunciada demolirá o tal pilar, levando junto o gás natural, tido como combustível de transição. Para reforçar o argumento de que a crise precede o coronavírus, Roberts aponta para o mercado de turbinas a gás que é, hoje, metade daquele de há seis anos.

Chloe Farand fez, no Climate Change News, uma lista dos países que estão pensando em salvar o setor ou pedaços dele: EUA, Rússia, China, Canadá, Reino Unido… e até o Brasil.

Aqui, o consultor Adriano Pires, no Poder 360, aponta exatamente na direção contrária, ignorando a profundidade das transformações futuras. Se apegando a uma narrativa parecida com a do setor elétrico, Adriano avisa que a queda da demanda ameaça a estabilidade do setor e diz que “dada a perda de mercado e o aumento de volume de inadimplência decorrente da crise atual é importante que medidas emergenciais sejam tomadas para preservar o equilíbrio econômico-financeiro das distribuidoras e, por extensão, de toda a cadeia de gás incluindo transportadores e produtores.”

Talvez o momento seja o de tirar os olhos do retrovisor e investir em um futuro mais justo, resiliente e sustentável.

 

ClimaInfo, 22 de abril de 2020.

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