A resposta dos Waimiri Atroari ao governo Bolsonaro

povos indígenas

Por decisão da justiça do Amazonas, o governo está obrigado a publicar carta dos Waimiri Atroari em resposta aos sucessivos ataques racistas do presidente e seu governo. A sentença diz que a “incitação ao desprezo pelos Povos Indígenas realizada pelo Sr. Presidente da República e por vários de seus ministros e assessores tem acarretado o aumento de atos de violência contra indígenas, incluindo a prática de homicídios.”

A carta acusa o governo de ter “se colocado, tanto em discurso quanto em atos, ao lado de nossos inimigos históricos: grileiros, madeireiros, garimpeiros e outros destruidores da floresta e dos Povos que nela vivem.” E lista expressões usadas por Bolsonaro: “Em vários de seus pronunciamentos, enxergam o indígena não como uma pessoa, mas como um ‘ser menor’, ‘desintegrado da sociedade’, ‘que precisa evoluir’, ‘que necessitaria deixar de ser indígena para ser integrado ao modo de vida dos [não-indígenas]’”.

A carta também diz que o governo mente quando diz que os Waimiri Atroari estão impedindo a construção da Linha de Transmissão Boa Vista-Manaus e que “nunca houve, da nossa parte, qualquer medida que impedisse o projeto governamental de interligação energética. O que nós, os Waimiri Atroari, sempre exigimos e continuamos a exigir, é que seja observado e respeitado o Protocolo de Consulta Prévia, Livre e Informada previsto na Convenção 169 da OIT (…), mas que foi completamente ignorado pelo governo federal (…) o ‘Linhão de Tucuruí’ será mais um grande empreendimento do Estado Brasileiro a nos impactar, mas o atraso que se observa em sua construção decorre exclusivamente de questões do Estado, pois o projeto, desde o início, foi impugnado pelo Ministério Público Federal, e desaprovado pela própria FUNAI, isto porque há falhas recorrentes no cumprimento das exigências legais necessárias ao licenciamento ambiental.”

No final da carta, um apelo: “A Comunidade Waimiri Atroari e, com certeza, todos os Povos Indígenas do Brasil, pedem ao Povo Brasileiro que não acredite nas mentiras e no discurso discriminatório do Governo Federal, já reconhecido pela justiça, e procure nos ouvir para que, CONHECENDO A VERDADE, possa constatar que os Povos Indígenas são compostos por pessoas, dotadas de dignidade humana e que merecem todo o respeito como aquele que é dispensado a qualquer ser humano.”

A carta está no site do Ministério Público Federal (MPF) e na matéria de Álvaro Gabriel n’O Globo.

Em tempo 1: Ao retuitar um tuíte do Greenpeace, a ativista adolescente Greta Thunberg disse que “a situação na Amazônia durante a pandemia do coronavírus é alarmante de vários pontos de vista. Nós devemos defender os Defensores da Floresta. Não há justiça climática sem Direitos Indígenas.”

Em tempo 2: Matéria assinada por Fabiano Maisonnave na Folha, informa que por conta da ameaça de genocídio dos Povos Indígenas diante da COVID-19, o fotógrafo Sebastião Salgado mobilizou dezenas de personalidades mundiais em torno de um manifesto que exorta o Estado brasileiro a proteger essas populações. Assinaram o manifesto personalidades como Madonna, Paul McCartney, Sting, Sylvester Stallone, Pedro Almodóvar, Brad Pitt, Meryl Streep, Ai Weiwei, Gisele Bündchen, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Luciano Huck, Fernando Meirelles, João Carlos Martins e Carlos Nobre.

 

ClimaInfo, 4 de maio de 2020.

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