Desmatamento volta a crescer na Mata Atlântica

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Nosso bioma mais devastado infelizmente segue sua sina: entre 2018 e 2019, a Mata Atlântica perdeu cerca de 27% de sua cobertura vegetal, de acordo com novos dados do Atlas da Mata Atlântica. Com isso, o bioma segue o mesmo padrão observado em outros – como Amazônia e Cerrado – no 1º ano do governo Bolsonaro, com desmatamento em alta e fiscalização ambiental em baixa.

Como informa Phillippe Watanabe na Folha, a maior parte dos 14.502 hectares de Mata Atlântica perdidos nesse período se concentra nos estados da Bahia, Minas Gerais e Paraná, com aumento de desmatamento, respectivamente, de 78%, 47% e 35%. Na outra ponta, os estados do Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo tiveram perdas marginais, abaixo de 3 hectares. Esses dados foram sintetizados pela Fundação SOS Mata Atlântica, responsável pelo Atlas.

Ouvido pela Folha, o diretor de políticas públicas da SOS, Mario Mantovani, afirmou que o crescimento no ritmo de desmatamento do bioma se insere em um movimento maior de destruição florestal, incentivado pelo discurso e pelas ações do presidente e de seu ministro do Meio Ambiente.

Vale lembrar que, na escandalosa reunião ministerial de 22 de abril, Salles confirmou que a mudança feita no entendimento de sua pasta sobre desmatamento na Mata Atlântica, a que anistiou proprietários rurais que destruíram áreas desse bioma, foi feita “a pedido do Ministério da Agricultura”, dentro da linha de “desburocratização e simplificação” das regras ambientais defendida pelo ministro.

Se a retomada do desmatamento na Mata Atlântica, que já vinha de duas quedas consecutivas, é uma notícia preocupante, os números baixos de destruição florestal em diversos estados indicam um caminho viável para que possamos efetivamente zerar o desmatamento do bioma. “Por sabermos onde os desflorestamentos mais ocorrem, é possível atingir o desmatamento ilegal zero na Mata Atlântica”, reforçou a diretora-executiva da Fundação, Marcia Hirota, à Daniela Chiaretti no Valor. “Isso é possível até nos estados com mais desmatamento, mas é preciso haver vontade política”.

E por falar em vontade política, este ativo precioso está em falta nos círculos do poder no Brasil. Mesmo com todas as iniciativas empreendidas nas últimas décadas, especialmente aquelas da sociedade civil, a situação da Mata Atlântica segue sensível. Como aponta o biólogo João de Deus Medeiro, no Conexão Planeta, “precisamos juntar os fragmentos e conectá-los para construir uma nova normalidade onde, quem sabe, o normal será a civilidade de uma relação respeitosa com a natureza. Onde ainda possamos reverenciar, todos os dias, o que restou da Mata Atlântica e propiciarmos condições para sua recuperação”.

 

ClimaInfo, 28 de maio de 2020.

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