A ministra da agricultura tem atuado frequentemente como “bombeira” e paramédica do agronegócio brasileiro, sempre que este é atingido por alguma declaração polêmica de Bolsonaro ou de seu ministro do meio ambiente. O problema é que, ao que tudo indica, sua capacidade de desatar nós e desfazer desentendimentos diminui progressivamente, com custos à imagem da ministra no exterior.
Na 6ª passada (29/5), uma reportagem do Le Monde cunhou um novo apelido para Tereza Cristina: Madame Déforestation, ou Senhora Desmatamento. A matéria descreve a ministra como “uma dama de ferro dedicada ao agronegócio, cujas políticas acabaram de levar a um novo recorde de desmatamento”, faz um raio-X de sua trajetória e traz uma entrevista feita com a ministra no final do ano passado.
Como Ana Estela de Sousa Pinto reforça na Folha, o acúmulo de crises e polêmicas do governo Bolsonaro no exterior, associado com os números alarmantes do desmatamento no Brasil, está trincando a imagem de Tereza Cristina na arena internacional, o que pode prejudicar ainda mais a situação do agronegócio brasileiro.
E os problemas se acumulam lá fora. O Partido Verde alemão cobrou do governo Merkel uma reação dura por conta do aumento do desmatamento na Amazônia e das ameaças aos Direitos Humanos e aos Povos Indígenas. A conduta irresponsável de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia também foi destacada pelo porta-voz do partido.
Em tempo: Para o físico e ex-diretor do INPE, Ricardo Galvão, demitido por Bolsonaro no ano passado em razão da divulgação de dados atualizados sobre desmatamento na Amazônia, o Brasil pode esperar por mais motivos para ser pressionado no exterior. Em entrevista à Revista Época, Galvão diz que a imagem da economia brasileira já está sendo afetada, com produtos brasileiros sendo boicotados em alguns países. “Setores responsáveis do agronegócio reivindicam moderação do discurso do governo, mas foram avisados por Salles que o presidente foi eleito com 100% de apoio de madeireiros e mineradores. Portanto, nossa imagem no exterior poderia ficar em segundo plano. E isso só piorou com a forma rudimentar como estamos tratando o coronavírus”.
ClimaInfo, 1º de junho de 2020.
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