O mundo pode sair da crise econômica causada pela pandemia apostando numa transição energética mais acelerada, capaz de gerar ou recuperar mais de 27 milhões de empregos nos próximos três anos, com crescimento médio global na média de 1,1% ao ano e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em 4,5 bilhões de tCO2e ao final do período. Tudo isso ao custo total de US$ 3 trilhões, o que representa menos de 1% do PIB global público e privado.
Essas são as linhas gerais da proposta apresentada ontem (18/6) pela Agência Internacional de Energia (IEA) em seu Special Report on Sustainable Recovery. Em análise realizada junto com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a IEA ressalta que, além dos ganhos econômicos e climáticos, esse plano pode resultar em benefícios de saúde e bem-estar para as pessoas, reduzindo a poluição atmosférica em ao menos 5%, facilitando o acesso de 420 milhões de pessoas a soluções limpas para cozinhar alimentos; bem como permitindo que outros 270 milhões passem a ser atendidos por redes de eletricidade.
“Os governos têm uma oportunidade única para fazer um reboot de suas economias e trazer uma nova onda de oportunidades de emprego, ao mesmo tempo em que aceleram sua transição para um futuro mais resiliente e com energia mais limpa”, disse Fatih Birol, diretor-executivo da IEA. “[O relatório] oferece uma análise rigorosa e conselhos claros sobre como enfrentar os desafios econômicos, energéticos e climáticos mais importantes da atualidade ao mesmo tempo”.
O plano tem mais de 30 medidas específicas e considera as abordagens mais custo-efetivas, as circunstâncias individuais dos países, os projetos existentes no pipeline e as condições atuais de mercado, desdobrando-se em seis setores-chave: eletricidade, transporte, indústria, construção civil, combustíveis e tecnologias emergentes de baixo carbono.
Kelly Trout e David Tong, da Oil Change, fazem críticas sérias ao trabalho. A primeira e principal é que, mais uma vez, a IEA “esquece” a meta de 1,5°C nas suas análises, como se bastasse dizer que o cenário é mais sustentável. “Na medida em que trilhões de dólares circulam como parte da recuperação da COVID-19, os governos precisam de clareza sobre os passos decisivos e ousados que serão necessários para reduzir pela metade as emissões de carbono nesta década, a principal diretriz traçada pelos cientistas climáticos para que nos mantenhamos dentro de 1,5°C. O relatório não explicita esse caminho.” Outro ponto é que o trabalho pede uma redução dos subsídios embutidos no consumo de combustíveis fósseis, sem mexer nos que bancam a sua exploração e produção.
O relatório foi destaque nos CNN, Guardian, Reuters e Carbon Brief.
ClimaInfo, 19 de junho de 2020.
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