O ambientalismo no “divã” da justiça racial

racismo e crise climática

O movimento ambientalista contemporâneo surgiu entre setores de classe média de países desenvolvidos na virada dos anos 1960 para 1970. Mesmo depois de décadas de atuação ao redor do mundo, com a diversificação de agendas, atores e interesses, resquícios dessa gênese seguem presentes em muitas organizações. Em termos práticos, isso se reflete em uma primazia de indivíduos brancos, com alto grau de escolaridade, que vivem ou tiveram alguma vivência em países ricos do Norte Global, particularmente na Europa e nos EUA.

Os protestos contra o racismo, que tomaram conta de diversos países nas últimas semanas, despertaram essa realidade para muitas pessoas dentro do movimento ambientalista, especialmente em organizações dedicadas à ação e à justiça climática. “A necessidade de justiça racial e econômica estar no centro do nosso trabalho tem sido uma obviedade para as comunidades negras há muito tempo”, disse Keya Chatterjee, diretora-executiva da Climate Action Network (CAN) nos EUA, ao Climate Home. “O fato do movimento climático ser maioritariamente branco tem sido um empecilho para seu próprio progresso. Não podemos vencer desta forma”.

As intersecções entre racismo e crise climática vêm sendo bastante discutidas nos últimos tempos. As vítimas mais comuns dos eventos climáticos extremos, que estão ganhando maior frequência e potência, são comunidades marginalizadas, compostas majoritariamente por negros e outros grupos étnicos. Estas pessoas são também as que menos têm condição para suportar os impactos e para se recuperar após os episódios. A estrutura política e econômica que causa a mudança do clima é a mesma que escolhe quem serão as vítimas desta crise. Nesse sentido, ação climática sem justiça racial e social não contribui de fato para a superação da crise climática.

 

ClimaInfo, 25 de junho de 2020.

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