Governo Bolsonaro brinca de “morde-e-assopra” com as críticas internacionais à sua política antiambiental

Mourão empresários

A “DR” do governo Bolsonaro com a iniciativa privada sobre o desmatamento e as queimadas da Amazônia seguiu, na 6ª feira (10/7), com a realização de uma videoconferência com empresários brasileiros.

Nas manifestações feitas após a conversa, o vice-presidente Mourão e alguns ministros mesclaram um discurso defensivo, reconhecendo os problemas e as limitações do governo, com outro mais agressivo, refutando as críticas e desviando a culpa pela crise. Por um lado, Mourão reconheceu que as ações contra o desmatamento na Amazônia deveriam ter sido implementadas ainda no ano passado para que o país pudesse conter agora o grau de destruição da floresta. O vice-presidente também afirmou que, por conta desse atraso nas ações, não seria possível estabelecer uma meta para redução do desmatamento no curto prazo. Já para o longo prazo, Mourão disse que o Brasil precisa reduzir ao “mínimo aceitável” até 2022, mas não identificou qual seria esse valor.

Por outro lado, Mourão rejeitou que o governo Bolsonaro seja responsável pelo desmonte dos órgãos ambientais federais. Segundo ele, a falta de pessoal e a proibição de novos concursos são heranças das gestões anteriores. Na mesma linha, Salles defendeu que as queimadas são parte da “herança maldita” de governos passados e reforçou que o orçamento de sua pasta e das autarquias associadas a ela já estava reduzido no orçamento do ano passado, definido em 2018 no final da gestão Michel Temer.

Já o ministro de infraestrutura, Tarcísio de Freitas, foi mais ácido em suas observações, questionando as críticas que o Brasil vem recebendo e dizendo que “não dá para admitir ou aceitar a pressão que vem sendo feita sob o Brasil de país que destrói o meio ambiente. Absolutamente”.

No final de semana, o presidente Bolsonaro seguiu essa linha contestatória e usou as redes sociais para ressaltar ações do governo federal em prol do meio ambiente, como o bloqueio de bens pela Advocacia-Geral da União de pessoas ligadas a atividades de desmatamento.

Enquanto isso, as críticas ao desempenho do governo Bolsonaro na defesa do meio ambiente se acumulam. Na Folha, Bruna Narcizo entrevistou o empresário Pedro Passos, cofundador da Natura, que culpou a política ambiental do governo atual como a responsável por tirar do Brasil o protagonismo que o país desempenhava nesse setor. “Além do estrago do ambiente, há um estrago na imagem e na marca Brasil de uma maneira muito clara (…) Também estamos perdendo valor em nossos produtos. Todo o setor econômico está preocupado. Estamos na iminência de perder um acordo com a União Europeia em razão de uma má política ambiental. É um estrago sem dimensões”.

Já em seu blog no UOL, o jornalista Leonardo Sakamoto ressalta que conversas e promessas protocolares não serão suficientes para desfazer o mal-estar que o Brasil está causando mundo afora pelo salto no desmatamento da Amazônia. Isso porque, no final das contas, a estrutura que está facilitando e, em muitos casos, causando essa destruição segue sendo a mesma: Ricardo Salles continua sendo ministro do meio ambiente e Jair Bolsonaro, presidente da República.

O tom das declarações de Mourão e companhia na semana passada também foram contestados na imprensa pelo jornalista Vinícius Torres Freire, na Folha, especialmente o fato de o vice-presidente ter relativizado parte das críticas ao Brasil e a associado com uma “disputa geopolítica”. “O que Mourão disse é: 1) Geopolítica de general de pijama no uísque depois da peteca na praia, velha e bisonha já nos anos 1980; 2) Ufanismo de liberal gagá já nos anos 1930; 3) Ignorância do que se passa no mundo”, escreve ele.

Em tempo: Vale a pena conferir o fact-check que o Fakebook.eco fez sobre a coletiva de imprensa de Mourão e dos ministros na 5ª feira (9/7). A checagem revela que, como esperado, os representantes do governo distorceram dados e argumentos sobre o desmatamento, as queimadas e a grilagem na Amazônia.

 

ClimaInfo, 13 de julho de 2020.

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