Carlos Nobre: “Desmatar é acabar com o futuro”

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Vale a pena ler a entrevista dada pelo climatologista Carlos Nobre a’O Globo no domingo (19/7). Na conversa, Nobre diz que as movimentações recentes de investidores e empresários cobrando informações e ações do governo federal contra o desmatamento podem ser vistas como um momento de virada: “A pressão internacional cresceu muito, e o Brasil é totalmente vulnerável. Precisa de investidores e compradores. Nunca vi o agronegócio, moderno ou conservador, tão preocupado.”

Nobre também falou do risco colocado pela intensificação do desmatamento ao bioma amazônico e, também, ao agronegócio, já que a perda de cobertura vegetal da Amazônia pode impactar o regime de chuvas no interior do país. Isso porque, sem floresta, os fluxos de umidade que a Amazônia “puxa” para o Centro-Oeste e Sudeste do país – os chamados “rios voadores” – ficam prejudicados, o que impacta diretamente na produção agrícola nessas regiões.

“A Amazônia é um ar-condicionado. É ela que resfria o norte do Cerrado e torna viável a agricultura no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a última grande fronteira agrícola da Terra. Mas, com o desmatamento, a Amazônia esquenta. Os ventos da floresta chegam 2oC mais quentes. Isso pode inviabilizar a agropecuária no norte do Cerrado”, explica. “Desmatar é acabar com o futuro. Dá lucro a poucos por pouco tempo, um modo de ganhar dinheiro colonial, de visão curta. A floresta não voltará a ser como é, ela é muito difícil de restaurar. Nem ela, nem o mundo que existe graças a ela.

O G1 e a Rede Amazônica também abordaram o risco que o desmatamento da Amazônia pode trazer para os “rios voadores”.

Em tempo: Os incêndios florestais na Amazônia neste ano podem ser impactados pela intensificação da temporada de furacões no hemisfério norte. A National Geographic indicou que o calor oceânico, que vem se refletindo na ocorrência mais frequente de furacões no Caribe e nas Américas do Norte e Central neste verão, pode resultar também em condições mais secas na Floresta Amazônica, facilitando a ocorrência e a proliferação de queimadas na região. De acordo com Doug Norton, cientista da NASA, quando as tempestades tropicais e furacões são formados, “captam a umidade que de outra forma circularia em direção ao continente Sulamericano (…) e desviam essa umidade para o Golfo do México e a costa leste dos EUA. Em outras palavras, retiram a umidade da Amazônia”.

 

ClimaInfo, 21 de julho de 2020.

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