Carlos Nobre: “Desmatar é acabar com o futuro”

21 de julho de 2020

Vale a pena ler a entrevista dada pelo climatologista Carlos Nobre a’O Globo no domingo (19/7). Na conversa, Nobre diz que as movimentações recentes de investidores e empresários cobrando informações e ações do governo federal contra o desmatamento podem ser vistas como um momento de virada: “A pressão internacional cresceu muito, e o Brasil é totalmente vulnerável. Precisa de investidores e compradores. Nunca vi o agronegócio, moderno ou conservador, tão preocupado.”

Nobre também falou do risco colocado pela intensificação do desmatamento ao bioma amazônico e, também, ao agronegócio, já que a perda de cobertura vegetal da Amazônia pode impactar o regime de chuvas no interior do país. Isso porque, sem floresta, os fluxos de umidade que a Amazônia “puxa” para o Centro-Oeste e Sudeste do país – os chamados “rios voadores” – ficam prejudicados, o que impacta diretamente na produção agrícola nessas regiões.

“A Amazônia é um ar-condicionado. É ela que resfria o norte do Cerrado e torna viável a agricultura no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a última grande fronteira agrícola da Terra. Mas, com o desmatamento, a Amazônia esquenta. Os ventos da floresta chegam 2oC mais quentes. Isso pode inviabilizar a agropecuária no norte do Cerrado”, explica. “Desmatar é acabar com o futuro. Dá lucro a poucos por pouco tempo, um modo de ganhar dinheiro colonial, de visão curta. A floresta não voltará a ser como é, ela é muito difícil de restaurar. Nem ela, nem o mundo que existe graças a ela.

O G1 e a Rede Amazônica também abordaram o risco que o desmatamento da Amazônia pode trazer para os “rios voadores”.

Em tempo: Os incêndios florestais na Amazônia neste ano podem ser impactados pela intensificação da temporada de furacões no hemisfério norte. A National Geographic indicou que o calor oceânico, que vem se refletindo na ocorrência mais frequente de furacões no Caribe e nas Américas do Norte e Central neste verão, pode resultar também em condições mais secas na Floresta Amazônica, facilitando a ocorrência e a proliferação de queimadas na região. De acordo com Doug Norton, cientista da NASA, quando as tempestades tropicais e furacões são formados, “captam a umidade que de outra forma circularia em direção ao continente Sulamericano (…) e desviam essa umidade para o Golfo do México e a costa leste dos EUA. Em outras palavras, retiram a umidade da Amazônia”.

 

ClimaInfo, 21 de julho de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar