O conceito de “refugiado climático” em xeque

refugiados climáticos

Uma das consequências mais comentadas da intensificação da crise climática é o surgimento dos “refugiados climáticos”, pessoas que, em razão de eventos climáticos extremos, são forçadas a abandonar suas comunidades e migrar para outras regiões. Em um contexto de recrudescimento global do nacionalismo e da xenofobia, o prenúncio de novas ondas de refugiados levanta preocupações e desperta polêmicas, especialmente na Europa e nos EUA.

No The Guardian, Maya Goodfellow levanta uma pergunta pertinente: será que enquadrar a questão das migrações decorrentes da crise climática pela ótica do refúgio não acaba criando ainda mais dificuldades para o debate do problema? Ela apresenta algumas observações de especialistas feitas durante uma audiência recente sobre o assunto no parlamento britânico. O consenso entre eles é que o conceito de “refugiado climático”, da forma como alguns estudiosos e políticos o formulam, não se sustenta. Primeiro, porque ainda existe um grau de incerteza grande sobre os impactos regionais da mudança do clima, ao menos em uma dimensão que inviabilize a permanência de comunidades inteiras em seus territórios. Segundo porque mesmo processos migratórios atuais se dão muito mais dentro dos territórios de um país do que em movimentos transfronteiriços.

Em termos políticos, a figura do “refugiado climático” parece ter sido mais interessante para os movimentos de extrema-direita. “Muitas vezes conhecida por negar a existência da crise climática e defender a suposta necessidade de restringir ainda mais a migração, há uma linha de raciocínio na extrema-direita que une os dois”, explica Goodfellow. “Repleta de histórias de superioridade colonial e relacionada a uma forma mais ampla de nacionalismo climático, a crise ambiental é um vetor por meio do qual algumas figuras de extrema-direita argumentam que muitos ‘deles’ [imigrantes] virão para ‘cá’ [países ricos]”.

 

ClimaInfo, 1º de setembro 2020.

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