Nos últimos meses, a discussão sobre energia limpa girou bastante em torno do potencial do hidrogênio como a “bala de prata” para a descarbonização da economia – finalmente, um combustível que poderia substituir o petróleo de maneira direta, sem padecer dos mesmos problemas físicos e tecnológicos de fontes renováveis como eólica e solar. Tanto que a União Europeia colocou o hidrogênio no centro de sua estratégia para transição energética, com o objetivo de investir bilhões de dólares na próxima década em pesquisa e desenvolvimento desse combustível.
No entanto, levantamento feito por uma coalizão de organizações ambientalistas na Europa revelou que uma das principais forças por trás do impulso recente obtido pelo hidrogênio no noticiário internacional é a empresa de relações públicas FTI Consulting, conhecida por sua atuação com gigantes petroleiras. Essa empresa esteve envolvida no lobby polêmico ao gás de xisto nos EUA, onde ela defendeu que as operações de exploração na bacia do Permiano, no Texas, estavam reduzindo as emissões de metano – a despeito delas estarem aumentando e quebrando recordes no estado.
Segundo informou DeSmog, a FTI Consulting esteve envolvida diretamente na criação do Hydrogen Council, o principal lobista do hidrogênio na Europa. Esse conselho é formado pelos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo, como Saudi Aramco, Shell, BP e Total, além de representantes dos setores de energia, transporte e tecnologia. O principal interesse por trás dessa campanha seria impulsionar o chamado “hidrogênio azul”, feito a partir de gás natural, como um “combustível de transição” para o “hidrogênio verde”, esse sim sem impacto em termos de emissões, mas ainda bastante caro e que necessita de avanço tecnológico substancial (e incerto) para ganhar escala.
ClimaInfo, 11 de dezembro de 2020.
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