Ativistas reagem à possibilidade da UE reconhecer gás como “combustível sustentável”

23 de março de 2021

Contra as pressões para que a União Europeia oficialize o gás natural como uma fonte sustentável, um grupo de 255 cientistas, instituições financeiras e organizações da sociedade civil enviou uma contundente carta à presidente Von der Leyden e outros dirigentes da UE. A proposta em discussão pretende incluir o gás natural na taxonomia, ou seja, no rol dos investimentos aceitos como sustentáveis, aqueles necessários para frear o aquecimento global. O argumento do campo fóssil é que o gás é necessário para o aquecimento de ambientes e para gerar eletricidade quando falta vento e sol. O campo fóssil adora a palavra “transição”, mas não quer ver a palavra “prazo” pela frente. Se conseguirem, o setor financeiro europeu estará autorizado a investir em empresas e atividades ligadas ao gás natural e declarar em seus relatórios de sustentabilidade que foram meninos bem comportados. Na carta, o grupo avisa que a taxonomia da UE foi concebida para ser a rigorosa régua baseada na ciência para evitar o greenwashing. “Com tal proposta, a própria taxonomia se torna o instrumento do greenwashing (…) considerar o gás natural como verde, ignora os enormes impactos ambientais do metano, cujo potencial de aquecer a atmosfera é de até 84 vezes maior do que o CO2”. A decisão da UE deve sair ainda esta semana.

A RF1 deu destaque para a carta. O Financial Times e a Reuters deram um olhar ligeiramente favorável ao gás. A Euroactive destacou as condições para que o gás seja aceito como “verde”.

Michael Webber, chefe de ciência e tecnologia da multinacional energética, Engie, compilou, para a Scientific American, uma lista de paliativos para fazer o gás natural menos feio: olhando para os gasodutos, pode-se injetar biometano de aterros e hidrogênio de fontes limpas. E, olhando para as chaminés pós-queima do gás, as sempre presentes alternativas de captura e armazenagem de CO2. A Engie no Brasil é dona de uma malha de gasodutos com aproximadamente 4.500 km e é a maior transportadora de gás natural do país.

Por aqui, muitos defensores do gás natural simplesmente perderam a vergonha e omitem a palavra “clima” em documentos, apresentações e projetos de lei. Como se o gás natural queimado aqui já nascesse verde.

 

ClimaInfo, 24 de março de 2021.

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