Carlos Nobre: Brasil precisa diminuir desmatamento na Amazônia para receber recursos e evitar sanções

Carlos Nobre

A ressaca da Cúpula Climática no Brasil segue forte. O cientista Carlos Nobre somou-se a outros especialistas nos últimos dias ao criticar a conduta e a resposta do governo Bolsonaro ao aumento do desmatamento na Amazônia e às críticas internacionais contra a política ambiental brasileira. Para o El País, Nobre ressaltou que os pedidos de ajuda financeira sem contrapartida, feitos por Bolsonaro e Salles durante o evento, não têm futuro. Pior: ele enxerga que existe a possibilidade do Brasil sofrer sanções econômicas caso não apresente resultados concretos no combate ao desmatamento. Nobre repetiu essa observação no Estadão, destacando a incoerência na cobrança de Bolsonaro e Salles por dinheiro sem reduzir o desmatamento nos últimos anos. Já para o G1/TV Vanguarda, o climatologista lamentou que as projeções feitas há 30 anos sobre a degradação da Amazônia causada pelo desmatamento estejam se tornando realidade rapidamente. “Aquilo que foi em 1990 uma projeção, hipótese teórica, infelizmente nós estamos vendo acontecer perante os nossos olhos”, disse.

No Estadão, Carlos Poggio (FAAP) observou a oportunidade desperdiçada pelo governo brasileiro na Cúpula Climática: “O que vimos foi mais uma evidência do estrago causado pela política externa conduzida pelo ex-chanceler Ernesto Araújo”. Além de desperdiçar a chance de recuperar a imagem do governo federal, Bolsonaro pode também ter perdido as condições de diálogo preferencial com a Casa Branca.

Para Maria Cristina Fernandes no Valor, a articulação dos governadores brasileiros para “driblar” Brasília nas conversas com os EUA pode resultar em novos recursos externos sendo destinados ao país através dos governos subnacionais, e não do federal.

“A Cúpula do Clima serve para mostrar a importância da luta da Humanidade para a sobrevivência das novas gerações e a contradição de Bolsonaro com essa gigantesca reação vital”, argumentou Fernando Gabeira n’O Globo.

Enquanto o governo tropeça, quem ganha motivos a mais para se preocupar é o agronegócio brasileiro. Na CNN Brasil, Marcos Jank (Insper) colocou a questão do desmatamento ilegal como o “calcanhar de Aquiles” da agricultura brasileira no comércio internacional. Para ele, o Brasil pode ser uma referência para o mundo no que diz respeito à produção agrícola sustentável, mas precisa confrontar o quanto antes problemas antigos que seguem expondo o setor a ilegalidades ambientais.

Na Folha, Ana Toni, diretora do Instituto Clima e Sociedade, dá o tom do que está por vir: “O caminho da descarbonização está dado; agora vira uma corrida pelas melhores tecnologias para isso”.

Em tempo: A chave para o Brasil recuperar parte de sua imagem no exterior está no combate ao desmatamento. Para tanto, Ilona Szabó destacou na Folha um caminho para reverter o quanto antes o processo de destruição da Amazônia, que passa fundamentalmente pela retomada da fiscalização, com os órgãos ambientais estruturados e capacitados para realizar essa tarefa, com o uso de tecnologia para monitorar e reprimir atividades ilegais, e avançar com o reflorestamento e a regeneração de terras degradadas. Por sua vez, André Lima (IDS) elencou no Estadão dez medidas contra o desmatamento que podem ser tiradas do papel rapidamente e que podem ajudar a reduzir o ritmo de desmate no curto prazo, como a retomada do PPCDAm, a demarcação de Terras Indígenas e de Unidades de Conservação, o bloqueio dos Cadastros de Imóveis Rurais em terras públicas federais e estaduais, entre outras. Essas medidas dependem basicamente da vontade de uma única pessoa: Jair Messias Bolsonaro.

 

ClimaInfo, 27 de abril de 2021.

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