Créditos de carbono florestal permitiram aumento de milhões de emissões na Califórnia

créditos de carbono florestal

Uma falta de precisão nas regras do mercado de carbono da Califórnia permitiu a emissão sem lastro, entre 20 e 40 milhões de toneladas de carbono equivalente. Plantar árvores ou cuidar para que não sejam cortadas seguramente são armas importantes para se enfrentar o aquecimento global. Já os créditos de carbono associados a florestas são um problema à parte. Sempre haverá o temor de que o carbono contido na biomassa florestal volte para a atmosfera por ação de incêndios, secas ou outros fenômenos naturais, e, claro, pela ação humana. Mas o que acontece na Califórnia é um novo problema velho. Para calcular quantos créditos um fazendeiro tem direito, a Califórnia definiu que este terá direito a um volume de créditos correspondente à diferença entre o carbono contido na sua mata e o contido em uma floresta típica da sua região. Há regras claras para se medir o carbono em uma propriedade. O furo vem de como a Califórnia define a tal floresta típica. Por exemplo, quando o programa começou, o estado vizinho do Novo México não tinha serviço florestal e não havia dados sobre as florestas típicas da região. A Califórnia simplesmente adotou que não havia florestas e, portanto, o carbono era zero. Alguns proprietários de terras com florestas aproveitaram para ganhar os créditos pelo total de carbono que havia nas suas árvores. Uma investigação da Carbon Plan, descobriu que, em muitos lugares, o carbono nas tais “florestas típicas” está subestimado, possibilitando a emissão de milhões de toneladas de créditos de carbono que simplesmente não existem. Uma matéria da ProPublica a respeito conta que até outubro do ano passado, 72 projetos florestais geraram mais de 130 milhões de créditos de carbono que valem quase US$ 2 bilhões.

A questão remete a um dos pilares mais fracos dos créditos de carbono vindos de projetos. Para se determinar o volume de créditos, é preciso comparar algo real e mensurável – quanto carbono tem na minha floresta – com uma linha de base. Esta linha de base pode ser uma média regional ou, mais frequentemente, um contrafactual – algo que teria acontecido se o projeto não existisse. Mais ciência e muita precaução são usados para mitigar essa fragilidade e evitar gerar mais créditos do que deveria. Mas a falha é inerente à atividade e, de vez em quando, vem à tona. Esses créditos de carbono sem lastro são usados para “compensar” emissões reais. Ou seja, ao invés de ajudar a conter o aquecimento global, o esquema acaba alimentando o fogo.

 

ClimaInfo, 30 de abril de 2021.

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