Sem avanços no combate ao desmatamento, aumenta desconfiança internacional com o Brasil

29 de abril de 2021

A incapacidade (ou indisposição, a depender do ponto de vista) do governo Bolsonaro em reverter o mau humor internacional com a política ambiental brasileira tem um preço para o país. Poucas vezes na história recente o Brasil enfrentou tamanha desconfiança de governos, consumidores, empresas e investidores no exterior, o que já está prejudicando a competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.

Na BBC Brasil, João Fellet conversou com Natalie Unterstell, veterana das negociações climáticas da ONU e especialista em política para o clima, que destacou a sinuca-de-bico do Brasil no tabuleiro global. “Países vizinhos, como a Colômbia, estão percebendo a oportunidade e um vácuo que o Brasil está deixando em relação à proteção da Amazônia e se posicionando superbem para estabelecer acordos bilaterais [para a proteção da floresta]”, disse. “Se o Brasil deixar, e o Brasil está deixando, esse espaço será ocupado por outros países”. O alerta é parecido no artigo de Alexander Busch na Deutsche Welle: a falta de credibilidade e a percepção de que o governo Bolsonaro não está realmente comprometido com uma agenda de proteção ambiental e de ação climática estão tornando o Brasil um país cada vez mais tóxico no exterior. “Opção pelo isolamento vai custar caro à economia”, escreveu.

A impressão que passa é que a “virada” no discurso ambiental de Bolsonaro e Salles se explica mais pela necessidade de criar um noticiário positivo para contrastar com o desastre econômico e sanitário causado pelo governo no último ano. O problema é que, diferentemente do que o Planalto insiste em repetir, o problema ambiental brasileiro não é fruto de “falta de comunicação”, mas de falta de substância. “Começaram a usar a receita do bolo mais servido na capital federal em tempos de crise: quando há algo errado, coloca-se a culpa na comunicação. Em seguida, é retirada do bolso do paletó uma lista com medidas concretas ou propostas genéricas, muitas das quais com poucas chances de prosperar sem o uso de fermento. Pouco importa”, argumentou Fernando Exman no Valor.

Em tempo 1: A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) que se manifeste sobre dois pedidos de abertura de inquérito para investigar a conduta de Ricardo Salles em favor de madeireiros suspeitos de ilegalidades na Amazônia. Um dos pedidos foi apresentado pelo ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, que acusou o ministro de atrapalhar as investigações acerca da apreensão de uma carga de madeira suspeita na divisa com o Pará no final do ano passado. O outro pedido foi apresentado pelo PDT logo após a direção da PF exonerar Saraiva do posto. Para a ministra do STF, as acusações contra Salles são de “gravidade incontestável”. Estadão, O Globo e Valor deram mais detalhes.

Em tempo 2: A Coca-Cola foi a multinacional mais recente a embarcar na canoa do programa “Adote um Parque”, criado por Salles para terceirizar os custos de proteção de Unidades de Conservação e conter parte das críticas internacionais à devastação da Amazônia. Segundo a Reuters, a subsidiária brasileira da gigante norte-americana se comprometeu a destinar cerca de US$ 120 mil para a preservação da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Javari-Buriti, com 132 km2 e localizada no Amazonas, por um período de um ano.

 

ClimaInfo, 29 de abril de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar