Os mercados de carbono regidos pelo Acordo de Paris não saíram até agora, muito por conta da intransigência dos negociadores brasileiros. Ao invés de aceitar os princípios de funcionamento para depois discutir as mecânicas, o Itamaraty simplesmente quer tudo acertado desde o princípio. Assim, algo que poderia estar funcionando há anos, segue emperrado. Uma matéria d’O Globo, na sua segunda parte, traz as justificativas de negociadores e apoiadores e os argumentos de quem entende que essas posições são insustentáveis. O primeiro ponto diz respeito aos créditos de carbono do Protocolo de Quioto que eles gostariam que continuassem valendo. O segundo diz respeito a como evitar que tanto o país comprador de um crédito como o país vendedor contabilizem a mesma redução de emissão. Gustavo Pinheiro, do iCS, disse que é “um descalabro matemático, como se 1 menos 1 fosse igual a 1”. O negociador chefe do Itamaraty, Cleaver de Athayde, tem uma interpretação bastante elástica: “O Acordo de Paris não especifica um teto ou orçamento global de emissões, apenas determina que os países devem dar suas contribuições individualmente. Não há uma meta coletiva de redução de emissões para toda a Humanidade. O que o acordo estabelece é um objetivo global de longo prazo.” Ele esqueceu que alcançar esse objetivo de longo prazo exige ações ambiciosas agora.
Na semana passada, o governo alemão teve que aumentar sua ambição climática, subindo a barra para o resto do mundo. É fácil constatar que os países ricos estão levando a emergência climática a sério. Daniela Chiaretti, no Valor, resume bem: “A redução de emissões de gases estufa prometida pelos países ricos tem uma mensagem clara: em 2030 o mundo desenvolvido terá mudado.” A chave é a eletrificação da economia. Setores como o transporte e o da indústria pesada passarão a ser movidos a eletricidade. E os planos para realizar essa transição encurtam os prazos a cada edição. Para o Brasil, fazer essa passagem seria mais fácil pela baixa emissão da nossa eletricidade. No entanto, como explica Eduardo Viola, do IEA-USP, “como o Brasil se coloca diante deste cenário no momento? Não se coloca. O Brasil está no passado. O governo federal age como um desconstrutor de componentes de descarbonização da economia, tanto no desmatamento da Amazônia como em promover a exploração do petróleo.”
Vale ver outras duas matérias do Valor. Assis Moreira escreve sobre o pêndulo protecionista em um mundo pós-pandemia presente na complicada relação entre os EUA e a China. Ele fecha citando o ministro britânico das Relações Exteriores: “Nesta década, o PIB combinado de regimes autocráticos deverá superar o PIB combinado das democracias do mundo. Pense um segundo sobre o que isso significa.” Na outra matéria, Daniela Chiaretti fala sobre a biodiversidade e, novamente, o tremendo potencial que o país tem. Ela conversou com Bráulio Dias, da UNB, que entende que “o Brasil precisa escolher o futuro que quer. Não temos um acordo em relação ao futuro que queremos. Se há muito potencial na bioeconomia, isso se constrói com investimento em ciência, inovação e políticas públicas. Não temos isso ainda no Brasil.”
ClimaInfo, 18 de maio de 2021.
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