Os riscos de uma nova crise energética no Brasil

27 de maio de 2021

A privatização da Eletrobras, acelerada para encher os cofres federais, ganhou uma penca de jabutis ao passar pela Câmara na semana passada. Um deles, segundo comentários, seria maior do que a árvore: sem consultas e praticamente sem discussões, o relator da Medida Provisória inseriu um artigo obrigando o governo a, nos próximos anos, contratar 6 GW de térmicas a gás, de preferência em locais longe dos pontos de fornecimento do combustível.

Segundo o Estadão e o Poder 360, o setor elétrico, ou, pelo menos parte importante dele, está se mobilizando para que o Senado retire esse e outros jabutis que farão, dentre outras, as tarifas subirem para pagar as novas usinas, seu combustível e os gasodutos a serem construídos.

Outro jabuti obriga o governo a contratar 2 GW de pequenas centrais hidrelétricas cuja energia também é cara. Em defesa dos jabutis, Adriano Pires e Bruno Pascon, também no Poder 360, defendem que vale levar gasodutos e térmicas onde não há demanda e a qualquer custo porque isso desenvolve o país.

Enquanto isso, o risco hidrológico segue aguçando. O governo mandou acionar todas as térmicas e ainda importar mais eletricidade dos países vizinhos para segurar um pouco da água nos reservatórios. Uma matéria do Valor diz que o aumento das tarifas este ano acrescentará 0,4% à inflação, posto que a eletricidade atravessa praticamente todo o sistema produtivo nacional. Outra matéria, também do Valor, comenta a situação de empresas que geram a própria eletricidade. As que operam usinas térmicas estariam mais protegidas da crise do que as que têm hidrelétricas. Estas estão sob o mesmo risco do resto do sistema.

A futura crise hídrica virou uma crise real no Rio São Francisco, segundo a Deutsche Welle. Nos últimos anos, a bacia do Velho Chico recebeu bastante chuva e Sobradinho, uma das maiores represas do mundo, começou o ano com 100% de capacidade. Mesmo assim, o Operador Nacional do Sistema ora fecha a torneira para guardar água para o futuro, só para ter que reabrir diante das pressões das comunidades ribeirinhas e do Comitê da Bacia do Rio.

Em tempo: A Aneel aprovou os editais para os próximos dois leilões de eletricidade exclusivamente para térmicas a gás e carvão. Além de ir contra tudo que se está fazendo para limitar o aquecimento global, ainda por cima fará com que a tarifa residencial aumente – a rigor, a tarifa de quem não pode migrar para o mercado livre. A notícia saiu n’O Globo.

 

ClimaInfo, 27 de maio de 2021.

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