Consumidor de eletricidade paga, mas não recebe

conta energia elétrica

Às vezes nosso sistema elétrico beira o surreal: o consumidor de eletricidade paga pela energia que não foi gerada. A EPE (Empresa de Pesquisa Energética), responsável pelo planejamento de todo o setor, soltou uma nota técnica sobre “indisponibilidades de usinas termelétricas em operação”. Isso acontece quando o ONS (Operador Nacional do Sistema) precisa acionar uma térmica e ela não responde. Essas usinas devem manter o ONS a par de manutenções e paradas forçadas. Mesmo assim, o trabalho da EPE estima que, só no primeiro semestre, mais de 10% das térmicas fósseis estavam indisponíveis. Segundo as regras do setor, aquelas que persistem no erro, perdem os contratos de venda.

O IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) fez as contas e estima que o consumidor está pagando quase R$ 9 bilhões todo ano para térmicas caloteiras que já deviam ter perdido seus contratos. Vale ver a matéria de Nicola Pamplona, na Folha.

Em tempo 1: A ameaça de crise hídrica abre espaço para o lobby de algo que já devia ter ido embora – as usinas térmicas a carvão de Santa Catarina. Uma colunista catarinense escreve defendendo um dos maiores emissores de gases de efeito estufa. O pequeno subsetor nacional volta a erguer suas tradicionais bandeiras – emprego e fornecimento – para tentar estender subsídios anuais de R$800 milhões até 2035. A rigor, poderia se usar esses recursos para oferecer programas de requalificação, financiar startups e pagar aposentadorias, garantindo uma transição energética justa e inclusiva.

Em tempo 2: Vale ver o artigo de Alexandre Mansur, na Exame, falando sobre a dificuldade do consumidor em distinguir aparelhos elétricos eficientes dos ineficientes e gastadores de energia. “Os brasileiros poderiam economizar R$101 bilhões em suas contas de luz até 2030 se tivessem geladeiras mais eficientes”.

Em tempo 3: Ainda sobre os jabutis térmicos a gás aprovados pela Câmara junto com a privatização da Eletrobras, André Ramalho, no Valor, conversou com executivos das petroleiras, que, apesar de interessadas no mercado de gás natural, não gostaram da ideia de haver térmicas e gasodutos longe do litoral. Por serem obrigatórias e rodarem o tempo todo, operariam no lugar das térmicas no litoral alimentadas pelo gás liquefeito importado… das próprias petroleiras.

 

ClimaInfo, 28 de maio de 2021.

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