Só a seca não explica atual crise hídrica

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Mais uma vez, o Brasil enfrenta o risco de um colapso no sistema elétrico precipitado pelo esvaziamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas no Sudeste e no Centro-Oeste após uma forte estiagem. Mas para entendermos a sinuca-de-bico em que estamos, precisamos olhar para além da seca.

Bruno Rosa elencou n’O Globo oito pontos importantes para o entendimento da situação dramática do setor elétrico brasileiro para além da falta de água. Um dos fatores citados é a incapacidade dos modelos hidrológicos utilizados pelo setor elétrico em considerar os efeitos da mudança do clima sobre o regime de chuvas no Brasil.

Além do fator climático, a reportagem destaca outros pontos: o atraso na aplicação da bandeira vermelha nas tarifas elétricas; a falta de flexibilidade no modelo tarifário; a baixa diversidade de fontes na matriz elétrica; a construção de hidrelétricas sem reservatórios; a baixa expansão da oferta de energia na última década; as regras inadequadas para o acionamento de usinas; e a defasagem dos preços de referência.

Alguns desses pontos foram abordados ontem (17/6) em um webinar realizado pelo Instituto Escolhas e a Agência epbr. O diagnóstico geral dos especialistas presentes é que o Brasil ainda mantém uma mentalidade antiquada no planejamento energético, o que impede o sistema elétrico de se antecipar a possíveis crises. E mesmo com a recorrência cada vez mais frequente de episódios de crise hídrica, o setor e o governo federal seguem míopes na questão climática. Sem uma mudança de mentalidade, situações como a atual podem se repetir com mais frequência e força no futuro, impondo obstáculos para o desenvolvimento econômico do Brasil. O Valor destacou trechos do evento.

Em tempo: O Escritório da ONU para Redução do Risco de Desastre (UNDRR) publicou ontem um relatório especial sobre o risco de seca em todo o mundo. A conclusão não é animadora: a escassez de água e a seca devem causar danos em uma escala equivalente à da pandemia de COVID-19. “A seca está prestes a se tornar a próxima pandemia e não há vacina para curá-la”, comentou Mami Mizutori, chefe do UNDRR. O documento mostra que o aquecimento global intensificou a ocorrência de estiagens no sul da Europa e na África Ocidental. Para as próximas décadas, espera-se que o aquecimento cause mais secas na maior parte da África e nas Américas, além da Ásia Central, sul da Austrália e sul da Europa. Guardian e Reuters deram mais informações. O Globo também repercutiu a notícia.

 

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ClimaInfo, 18 de junho de 2021.

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