Crise elétrica: gastos com termelétricas sobem para R$ 12 bilhões e projeto de incentivo para solar empaca

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Duas semanas atrás, a tarifa da bandeira vermelha aumentou para pagar os R$9 bilhões destinados às termelétricas que o governo está acionando para enfrentar a crise hídrica. Ontem (12/7), a estimativa subiu para R$13 bilhões – ou seja, em 14 dias, o governo descobriu que subestimou a conta em quase 50%. A conta será paga por mais aumentos na bandeira vermelha e nos reajustes tarifários no ano que vem.

O ministro Bento Albuquerque insiste que não haverá nem racionamento nem apagão. Além dos perigos físicos, há o perigo de uma gestão que fica mudando os planos a cada semana e, com isso, decide acionar mais termelétricas e prever ainda mais aumentos de tarifa. O Estadão e o Poder 360 noticiaram os aumentos que vêm aí.

Uma das termelétricas a serem ligadas é a de Campo Grande. Ela ficou desligada nos últimos 4 anos porque não era viável economicamente. No último final de semana, segundo O Globo, voltou a sê-lo.

Roberto Brandão, da UFRJ, comentou no Notícias R7 que a pandemia vem reduzindo o consumo, principalmente na indústria. Não fosse isso, a demanda seria mais alta e o impacto da crise hídrica seria ainda pior. “De 2015 a 2020, a capacidade instalada, ou seja a quantidade de megawatts instalados no parque industrial brasileiro cresceu 20% e o consumo cresceu pouco mais de 3%. Não houvesse essa crise econômica que culminou com a crise do covid (sic) ano passado, uma hidrologia como a que aconteceu geraria um racionamento do porte de 2001 ou maior.”

Lauro Jardim, n’O Globo, fez uma comparação interessante para dar uma noção do tamanho da crise. Em julho do ano passado, a água nos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste equivalia à operação de quase 12 usinas de Itaipu. Hoje, elas aguentariam apenas 8,1 “Itaipus”. Uma perda de quase 3 Itaipus.

O governo deverá apresentar um projeto para bonificar as indústrias que deslocarem seu consumo para fora da hora de pico. O Poder 360 diz que a primeira preocupação do governo é atender à demanda máxima de cada dia, a demanda de pico. O projeto visa reduzir esta demanda.

O Metrópoles publicou um artigo sobre um projeto de lei empacado no Congresso que subsidiaria as fotovoltaicas, principalmente residencial. A polêmica é que o subsídio seria pago por todos os consumidores, mas o benefício não.

Anton Schwyter e Clauber Leite, no Nexo, comentaram o esforço japonês para reduzir o consumo na esteira do desastre na usina nuclear de Fukushima em 2011. “O consumo de energia do Japão diminuiu 8% entre 2011 e 2018, mesmo período em que a economia japonesa registrou a mesma taxa de crescimento.” Eles contam que o governo e as indústrias assumiram metas de eficiência energética tanto da produção quanto dos produtos.

Em cima do drama da nossa crise hídrica, Schwyter e Leite falam de outros impactos da crise climática, como a quantidade crescente de torres de transmissão derrubadas por ventos fortes e incêndios. Nessas condições, faz ainda menos sentido fazer crescer o parque térmico fóssil, que, se tapa um buraco instantâneo, contribui para aumentar um rombo no clima.

 

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ClimaInfo, 13 de julho de 2021.

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