Governança fraca e planejamento desatualizado são os maiores responsáveis pela crise hídrica e elétrica

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Os meteorologistas sabiam que as chuvas seriam poucas no verão passado, mas, mesmo assim, o governo faz cara de surpresa. Jennifer Ann Thomas, do Um Só Planeta, conversou com Ângelo Lima, do Observatório das Águas e ouviu que a política de Bolsonaro de desmantelar a governança ambiental se espalhou em vários estados. “Os recursos da cobrança pelo uso da água, que deveriam ser utilizados para implementar programas e projetos, foram desviados para outros fins” pelos governadores. Assim, os principais instrumentos de gestão da água, como os planos de bacias, controle de outorgas e cobrança pelo uso da água estão, em muitos lugares, inoperantes.

O setor elétrico é, em tese, mais bem estruturado. Mesmo assim, segundo a opinião de Luís Barroso, ex-presidente da EPE, no Valor, as seguidas crises do setor acontecem “pela dificuldade de governança e enforcement setorial, que deveria permitir a implementação de correções apontadas pelo planejamento, mas que tem impactos comerciais nos agentes.” A situação tende a se agravar cada vez que um deputado inventa jabutis que passam por cima do planejamento existente. Barroso acha que deveríamos aproveitar crise para “cuidar da gestão do uso da água. Ficou claro que temos duas perguntas muito relevantes para responder: a quem pertence e quanto custa a água?”

No fim de semana, a Folha fez uma matéria sobre cidades no interior de São Paulo que já estão racionando água. A Bloomberg e o UOL comentaram o impacto da falta d’água na bacia do rio Paraná para o transporte de grãos, aqui e para os países vizinhos.

Adriano Pires, eterno defensor dos fósseis, escreve na Exame, que o país, ao reinjetar o gás natural nos poços de petróleo, desperdiça uma quantidade de energia do tamanho da gerada por Itaipu. Pires não diz que, ao fazê-lo, evita a emissão de 30 milhões de toneladas de dióxido carbono. Isso corresponde a mais da metade de todas as emissões do setor elétrico em 2019, piorando ainda mais o aquecimento global, responsável, em parte, pela pouca chuva no verão. Lembrando que as emissões de Itaipu são quase nada em comparação.

 

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ClimaInfo, 3 de agosto de 2021.

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