Criticado pela falta de iniciativa e liderança política nas negociações prévias à próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP26), o primeiro-ministro Boris Johnson parece mais preocupado em aproveitar o evento para atender a objetivos políticos internos no Reino Unido. Em particular, Johnson está usando a conferência para conter as pretensões separatistas do governo da Escócia, que ganharam força depois da saída do Reino Unido da União Europeia.
Nesta semana, o premiê britânico visitou o país e ofereceu à primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, um “papel de liderança” na organização da COP. No passado, Johnson chegou a afirmar que não queria que Sturgeon tivesse sequer permissão de entrar no espaço da conferência em Glasgow. “[A COP] é um grande empreendimento para todos nós, e todas as partes do Reino Unido estão agora trabalhando juntas [nesse sentido]”, defendeu Johnson agora. Daily Mail e Scotsman destacaram a virada de 180o do premiê britânico nesse tema.
Ao mesmo tempo, Johnson também tenta aproveitar a COP26 para contestar grupos contrários a ele no Partido Conservador britânico. Como a Bloomberg abordou, a situação não está fácil: os planos climáticos do governo estão sendo duramente contestados por alguns conservadores, que reclamam dos custos para implementar metas como a eletrificação da frota automobilística, o fim da queima de carvão para geração de energia e investimentos massivos na geração por fontes renováveis. Auxiliares de Johnson em Downing Street temem que a divisão política entre os conservadores coloque o governo britânico em uma posição delicada nas negociações climáticas em Glasgow.
Para contestar as críticas da ala mais conservadora, Johnson ressuscitou até Margaret Thatcher. Segundo ele, a Dama de Ferro foi “pioneira” da ação climática ao ordenar o fechamento de minas de carvão no Reino Unido nos anos 1980. “Graças a ela, que fechou tantas minas de carvão em todo o país, começamos muito cedo e agora estamos nos afastando rapidamente do carvão”, disse Johnson, citado pela BBC.
ClimaInfo, 6 de agosto de 2021.
Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.
