Setor financeiro trata os riscos climáticos da mesma maneira que o levou à crise de 2008-09

investimentos climáticos

O setor financeiro está, ao analisar os riscos climáticos, repetindo os mesmos erros que cometeu em 2008, subestimando impactos e superestimando a resiliência dos sistemas. Essa é a principal conclusão de um relatório do think tank Breakthrough. Os autores comparam os stress tests usados por bancos centrais e privados com os modelos um tanto otimistas usados para avaliar o risco de inadimplência das hipotecas antes da quebradeira. Um dos autores, o ex-chefe da Associação Australiana do Carvão Ian Dunlop, citou o relatório do IPCC e disse que “é preciso que o mundo dos negócios encare o fato de que sua sobrevivência agora depende de ações sérias para reduzir as emissões”. O The Guardian comentou o trabalho e falou com outras personalidades.

Dunlop e seu colega David Spratt escreveram um artigo para a Climate Code Red, analisando as distorções nos cenários estudados pelo NGFS (sigla em inglês da Rede para o Esverdeamento do Sistema Financeiro, composta pelos bancos centrais de 95 países). Os dois cenários mais detalhados são bem otimistas. Os outros dois cenários não abordam os riscos reais de impactos fortes em um mundo 2oC mais quente.

Ainda no campo das falhas do mundo financeiro em relação às mudanças climáticas, Kate Mackenzie, no Bloomberg Green, conta que, enquanto a ciência da atribuição climática é parte importante do Relatório do IPCC, no mundo financeiro, a modelagem dos riscos climáticos ainda é quase inexistente e, portanto, não consegue emitir sinais econômicos fortes que levassem o setor a desinvestir nos fósseis. Ela ainda aponta que o Relatório, pela primeira vez, fala em eventos acoplados – aqueles que acontecem em geografias distintas, mas com causas comuns. Em 2010, uma onda de calor na Rússia restringiu a exportação de trigo que contribuiu para a primavera Árabe, ao mesmo tempo em que enchentes recordes atingiram o Paquistão. Estas combinações não fazem parte de nenhuma avaliação de risco do mundo financeiro.

Vale ver um artigo do El País abordando o mesmo assunto, mas olhando para as negociações da Conferência do Clima em novembro. Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção, entende que “a COP26 será a hora da verdade. Tudo o que necessitamos para evitar os impactos exponenciais da mudança climática é factível. Mas depende das soluções avançarem exponencialmente mais rápido que os impactos, e que nos ponhamos no caminho de reduzir pela metade as emissões globais até 2030”.

 

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ClimaInfo, 17 de agosto de 2021.

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