Poucos resultados após 30 anos capturando e armazenando carbono

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O recente relatório do IPCC aposta “com alto grau de confiança” em tecnologias com “o potencial de remover o CO2 da atmosfera e armazená-lo de forma durável em reservatórios”, a chamada captura, utilização e armazenagem de carbono (CCUS é a sigla em inglês).

Porém, uma pesquisa recém publicada na Energy Policy que examinou o histórico de 30 anos de pesquisa, desenvolvimento e testes-piloto entrega o resultado já em seu título: “O que deu errado? Aprendendo com três décadas de projetos-piloto e demonstrativos de captura, utilização e sequestro de carbono”.

O trabalho analisou 263 projetos que rodaram entre 1995 e 2018. Uma primeira conclusão foi a de que a performance cai drasticamente com a escala. Cada tonelada anual a mais aumenta em 50% a chance do projeto não dar certo. Assim, o trabalho recomenda aumentar os investimentos para demonstrar a viabilidade da tecnologia e criar um mercado de escala contando com preços de carbono nas alturas.

Kristina Partsinevelos, na CNBC, analisa as juras e promessas de net zero, a neutralidade climática. Ela traz a palavra de um pesquisador da Universidade de Princeton, segundo o qual existe uma pressão forte por parte de acionistas e demais atores para que países e empresas assumam este tipo de meta. Ela diz que boa parte destes compromissos não prometem remover carbono da atmosfera, mas compensar suas emissões comprando offsets (ou créditos de carbono) de terceiros, como todos os desafios de credibilidade de têm surgido ao longo dos últimos anos.

Partsinevelos escreve ainda sobre outro desafio, o da contabilização correta de todas as emissões, incluindo as realizadas ao longo das intrincadas cadeias de valor. Ela conclui que, para limitar o aquecimento global, serão precisos investimentos, recursos e sistemas transparentes e auditáveis de contabilidade de emissões, remoções e compensações.

Em tempo: Para remover a quantidade de CO2 emitida pela queima de combustíveis fósseis todo ano, o mundo precisaria gastar o mesmo tanto de energia que a gerada pela sua queima. A conta foi apresentada por Leigh Collins na Recharge News. A queima de fósseis gera 462 exajoules (bilhões de bilhão ou 1 seguido de 18 zeros) de energia e emite 32 bilhões de tCO2e. Plantas de captura direta de carbono como a inaugurada na Islândia na semana passada consumiriam 448 exajoules. Nas palavras de John Poljak, do time que fez as contas, “o mundo precisaria da mesma quantidade de energia para limpar a sujeira da energia que queimou inicialmente”. Soa meio idiota.

 

ClimaInfo, 16 de setembro de 2021.

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