Da negação à crise climática ao ceticismo antivacina

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Os EUA convivem com uma situação curiosa nos últimos meses: a despeito de serem um dos países com vacinação contra COVID-19 mais avançada do mundo, os números recentes de internações e óbitos pela doença vêm subindo. Dois fatores explicam esse cenário: a disseminação da variante Delta, mais contagiante, e a reticência de uma parte substancial da população norte-americana que segue irredutível em sua decisão de não se vacinar contra COVID. Ou seja, em face às evidências científicas sobre a segurança da vacina e o perigo da doença, muitas pessoas ainda preferem seguir o achismo e as fake news, mesmo que isso resulte numa eventual contaminação e, pior, morte. Essa história parece familiar, né? Pois é, quem acompanha o noticiário sobre a crise climática deve estar tendo uma sensação de déjà vu com essa história.

Vale a pena conferir duas reflexões sobre as conexões entre o negacionismo climático e o negacionismo da vacina, com foco particular no caso australiano, mas que são interessantes para pensarmos no contexto brasileiro. No Guardian, Clive Hamilton aponta as similaridades entre os dois movimentos (em especial, a aversão à ciência e uma visão distorcida da ideia de “liberdade”) e também as diferenças. Por exemplo, enquanto a negação da crise climática é praticamente cartão de visitas da direita conservadora, a negação da vacina é mais difusa, com argumentos ressonantes em grupos de esquerda. Aqui, o ponto central da desconfiança está menos na ciência em si e mais no fato de que as grandes farmacêuticas foram as primeiras a apresentar um imunizante contra COVID. Na mesma linha, Ian Verrender escreveu na ABC News Australia sobre esse recorte peculiar de pessoas que acreditam na ciência em torno da questão climática, mas que contestam as evidências científicas sobre a segurança da vacina e até mesmo a importância de medidas preventivas como distanciamento social e o uso de máscaras. Para ele, isso é reflexo da desinformação e da manipulação dos sentimentos e dos medos da população por políticos e outros tipos de influenciadores nas redes sociais.

 

ClimaInfo, 29 de setembro de 2021.

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