Alta do gás, carvão, petróleo e nossa seca fazem tarifas explodirem em todo o mundo

taxas elétricas

A tempestade perfeita formada pelas crises simultâneas de gás natural, carvão, ventos baixos e falta de chuvas segue derrubando bolsas, expectativas de empresas e complicando a vida no mundo todo. Na 3ª feira (28/9), o Valor informou que, em Nova York, os índices Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 caíram. O Ibovespa caiu 3%. Outra matéria do Valor comenta a Sondagem da Indústria, feita pela FGV IBRE, mostrando que o otimismo do setor caiu em julho. E está sendo uma queda assimétrica com os setores mais eletrointensivos ficando mais pessimistas do que os que dependem menos da eletricidade.

Como contam Gabriela Ruddy e Olívia Bulla, também no Valor, e Toni Sciarretta e Ana Carolina Siedschlag, na Bloomberg Linea, os russos fecharam um pouco a torneira de gás para pressionar a Europa a liberar a operação do segundo gasoduto Nord Stream, parado em função dos compromissos climáticos europeus. Acontece que o inverno do ano passado deplecionou os estoques de gás por lá; os ventos no Mar do Norte foram mais fracos este ano; e a retomada das economias pós-pandemia na China, Europa e EUA aumentou fortemente a demanda por gás.

Sobrou até para o Brasil que, ao acionar todas as térmicas possíveis passou a ser uma peça importante no tabuleiro do gás. E a OPEP, depois dos preços negativos do barril de petróleo no ano passado, havia decidido restringir a oferta fazendo com que o preço batesse a marca de US$80 nesta semana.

O Guardian, a Reuters e a AP voltaram suas atenções para a situação na China neste começo de outono. Lá, o governo central determinou aos governos locais e ao transporte ferroviário que garantam a oferta de carvão em todo o país, mesmo a um preço recorde. O país vinha reduzindo a importação de carvão ao longo do primeiro semestre, mas, no mês passado, deu um salto de 30% em relação a agosto de 2020. Para enfrentar os cortes de eletricidade que estão acontecendo, a população apela para os geradores e as lanternas dos celulares.

Outra pesquisa, esta feita aqui às vésperas de mais uma reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) e comentada no Valor Investe, mostra que quase metade dos analistas econômicos consultados acham que a crise hidroelétrica está impactando seriamente a atividade econômica no país, mais pelo aumento das tarifas do que pelas ameaças de apagão.

Sobre o lado dos que buscam soluções, Daniela Chiaretti, no Valor, escreveu sobre uma reunião de governadores da região do semiárido que se juntaram para fazer avançar o Plano HidroSinergia, montado pelo CBC (Centro Brasil no Clima) e o Instituto Clima e Sociedade (iCS) com apoio da União Europeia e da agência de cooperação alemã GIZ. Trata-se de um conjunto de políticas integradas de energia, água, reflorestamento e inclusão social girando em torno de dois eixos: a regeneração da bacia do rio São Francisco e a produção de hidrogênio a partir de fontes limpas. E, claro, com um forte componente de inclusão social e redução das desigualdades.

Também pelo lado das soluções, vale ler um artigo publicado na Nature defendendo uma mudança na gestão dos reservatórios como solução para a crise de energia e água. Para mantê-los cheios durante boa parte do ano, haveria que aumentar significativamente a oferta de renováveis para só operar as hidrelétricas quando não houvesse vento ou sol. Ou, como defende Adriano Pires no Poder 360, depender mais das térmicas e da montanha-russa dos preços dos fósseis e, claro, de ir no sentido contrário do enfrentamento do aquecimento global.

 

ClimaInfo, 30 de setembro de 2021.

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