O malabarismo “verde” do governo Bolsonaro às vésperas da COP26

Bozo na ONU

A menos de um mês para a Conferência do Clima de Glasgow (COP26), o governo Bolsonaro segue com sua estratégia de “resetar” a imagem do Brasil no exterior, manchada por conta do desmonte da política ambiental dos quase três últimos anos. Nesta 6ª feira (1/10), o Planalto publicou decreto regulamentando a Cédula de Produtor Rural (CPR) Verde, título financeiro que permitirá a remuneração de produtores rurais pela preservação ambiental de suas áreas.

O Globo explicou a diferença entre a CPR tradicional, utilizada por produtores rurais para antecipar recebimentos com pagamento atrelado à safra, e a nova CPR Verde. No novo instrumento, o produtor poderá negociar a manutenção de reserva florestal em sua propriedade com investidores privados, principalmente empresas que visam compensar suas emissões de carbono com créditos de emissão.

A Folha também destacou a iniciativa, parte do chamado “programa de crescimento verde” que está sendo discutido pelo ministro Paulo Guedes para ser apresentado na COP. Já o Valor repercutiu a expectativa do governo de movimentar até R$ 30 bilhões nos próximos quatro anos por meio da CPR Verde, considerando a certificação de créditos de carbono em áreas florestais no país.

O diabo, como sempre, está nos detalhes. Para deslanchar, a CPR Verde dependerá da existência de compradores dispostos a financiar a floresta em pé. O governo já tirou o corpo fora nesse ponto: os produtores serão os responsáveis por encontrar os compradores. Outra casca de banana está nos mecanismos de validação, que poderão ser definidos livremente entre as partes. Se for sério, isso vai custar um bocado. Se não for, será um “Deus nos Acuda”.

Em tempo: Enquanto tenta convencer o mundo de seu “esverdeamento”, o governo Bolsonaro segue com a pedalada contábil que permitiu relaxar a meta de corte nas emissões de carbono na nova NDC do país sob o Acordo de Paris. Rafael Garcia mostrou n’O Globo a malandragem do Planalto: na nova NDC, o governo manteve a meta percentual de 43% de redução de emissões de carbono até 2030 com relação a 2005, mesmo com a atualização dessa linha de base. Na prática, isso permitirá uma gordura extra de 400 milhões de toneladas de CO2 equivalente que poderão ser queimados pelo país nesta década sem comprometer a meta nacional.

 

ClimaInfo, 4 de outubro de 2021.

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