Crise elétrica expõe divisões na União Europeia em torno da transição verde

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A alta dos preços dos combustíveis fósseis segue batendo recordes. Uma das referências de preço para o gás natural, a japonesa JKM, chegou a quase US$35 por MMBtu, quase 7 vezes o valor de um ano atrás, quando estava por volta de US$5 por MMBtu, informa a epbr. Na Europa, os preços seguem altos, os estoques, baixos e a demanda reprimida. O inverno que se aproxima pode agravar o quadro. A crise hídrica daqui, com térmicas funcionando a pleno gás, fez o país dobrar a quantidade que importa e, assim, ajudar a manter os preços internacionais altos.

A situação começa a se espalhar na forma de crises políticas, econômicas e ameaças à já lenta transição para matrizes energéticas de baixo carbono.

Na Europa, governos estão criticando a Comissão Europeia pela lentidão e tibieza nas respostas à crise. Segundo o Financial Times, críticos dizem que as recém anunciadas metas de neutralidade climática estão por trás do disparo dos preços. A Reuters fala de uma reunião na 4a feira de ministros do Meio Ambiente europeus para discutir o pacote climático, com um grupo dos mais ricos defendendo que o melhor antídoto contra futuras altas é dobrar a aposta nas renováveis e depender cada vez menos dos fósseis. Esse caminho é visto com preocupação por aqueles com dificuldade para pagar a conta no curto prazo.

Um exemplo da temperatura da discussão é relatado na Bloomberg que escreve sobre a troca de farpas entre o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, e o da Hungria, Viktor Orban. Rutte disse que Orban está misturando coisas distintas para atacar a transição energética.

Sobre os mais atingidos pela crise, a AP conta que a França e Espanha lideram um grupo que pede mudanças nas regras da União Europeia de modo a permitir que governos possam prover fundos de auxílio para pequenas empresas e consumidores.

O Financial Times e a Bloomberg trazem a preocupação de grandes indústrias siderúrgicas e químicas europeias: a persistirem preços altos, a recuperação econômica do bloco pode ser impactada. Isso se estende até mesmo à agricultura que depende de fertilizantes à base de amônia e assim, hoje, do gás natural usado para produzi-los.

A onda de pressões sobre o mercado financeiro para desinvestir em fósseis, permitiu a fundos menos expostos à mídia e a acionistas, comprarem papéis fósseis a preços baixos. E, com a atual alta dos preços, estão realizando lucros substanciais. Uma matéria do Financial Times traz falas de gestores de alguns destes fundos muito felizes com a situação.

Ontem, Putin sinalizou que poderia ajudar a estabilizar a situação, abrindo mais a torneira de gás. Havia a desconfiança de que Putin estava usando a situação para forçar a UE e a Alemanha, em particular, em liberar a construção do segundo ramal do gasoduto Nord-Stream. O projeto tinha sido suspenso em função dos novos compromissos climáticos europeus. A notícia é do Financial Times.

 

ClimaInfo, 8 de outubro de 2021.

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