A crise energética e climática global acirra desigualdade entre ricos e pobres

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À medida em que a temperatura global aumenta, o consumo anual de energia residencial nos países de clima temperado deve cair, ao demandar menos calor durante o inverno, o que vale para boa parte dos países mais ricos do mundo. Nos países tropicais, esse aumento de temperatura poderia ser mitigado por aparelhos de ar condicionado se suas populações não fossem bem mais pobres e sem condições de comprar esses aparelhos. A resultante é que o aumento de temperatura reduz o consumo global de energia.

Um estudo na Nature sugere que o aumento da temperatura em um grau reduzirá em 3,5%, o consumo de energia no final do século. O que essa média sugere é que a disparidade de qualidade de vida entre os ricos do Norte e os pobres do Sul irá aumentar.

Um segundo trabalho, também na Nature, analisa os resultados do primeiro, assim como um artigo da Bloomberg que tem o sugestivo título de “Desigualdade energética torna o mundo aquecido mais mortal para países mais pobres”.

A crise energética global está fazendo a China e a Índia aumentarem significativamente o consumo de carvão, empurrando para mais longe metas climáticas para um futuro mais distante. Segundo o The Guardian, o premier chinês, Li Keqiang, reforçou a necessidade de uma oferta regular de energia, após indústrias e residências em várias regiões do país sofrerem sucessivos apagões. O remédio é construir mais térmicas a carvão e, provavelmente, postergar o compromisso das emissões atingirem seu pico em 2030. A matéria ainda explica que, lá, não se pode repassar para as tarifas os aumentos nos preços do gás e carvão. Assim, alguns geradores preferiram desligar suas centrais a rodar no prejuízo. A Reuters trouxe a palavra de Zhao Chenxin, da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, no sentido de que os compromissos climáticos assumidos serão cumpridos, apesar da gravidade da crise.

Sobre a também grave crise na Índia, a Economist publicou um artigo informando que mais de 60% da oferta de eletricidade daquele país vem de 135 térmicas a carvão e que seus estoques estão perigosamente baixos. Governos regionais estão cortando a luz durante períodos de 1 a 4 horas por dia. A situação foi agravada pelas fortes chuvas na maior região produtora de carvão que inundaram minas e ferrovias.

Da Rússia, o presidente Putin abriu o coração dizendo que o país tem gás suficiente para afastar a crise da Europa desde que mudem algumas políticas, como não quererem contratos de longo prazo. O Valor, Bloomberg, Financial Times e a Reuters comentaram mais sobre o ataque de bondade do dirigente russo.

Em tempo: Reatores nucleares respondem por mais de 70% da matriz elétrica francesa. O país se juntou a 9 nações do antigo bloco soviético para pedir à Comunidade Europeia que aceite a energia nuclear como “verde”. Alemanha, Bélgica, Holanda e Espanha também têm usinas nucleares, mas têm se posicionado contra o pedido. A Folha e a Reuters deram a notícia. A France24 e a Bloomberg comentaram um plano francês anunciado na 3ª feira que pretende desenvolver pequenas centrais nucleares mirando o mercado interno e, principalmente, o mercado chinês. Vale lembrar que, recentemente, o presidente Macron ficou muito chateado ao perder a encomenda de submarinos nucleares feita pela Austrália. Ele foi pego de surpresa pelo acordo firmado entre seu potencial cliente, o Reino Unido e os EUA para uma frota deste tipo de embarcação. O acordo foi um recado claro para a China que anda se espalhando pelos mares.

 

ClimaInfo, 14 de outubro de 2021.

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