Greenwashing de Bolsonaro não alivia pressão internacional sobre descontrole ambiental no Brasil

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O governo Bolsonaro anunciou em evento realizado ao final da tarde ontem (25/10) a criação do Programa Nacional de Crescimento Verde, com o objetivo declarado de “reduzir as emissões de carbono, conservar florestas e promover o uso racional de recursos naturais com geração de emprego verde e crescimento econômico”, conforme relata a Exame.

Segundo a revista, o programa deverá contar com R$ 240 bilhões provenientes do NDB (banco dos Brics), da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES. Mas a única providência real tomada até agora foi a assinatura de um decreto que adiciona o sobrenome “e Crescimento Verde” ao Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima. Poder360 e g1 também reportaram o evento.

O anúncio faz parte da principal intenção do governo Bolsonaro na COP26: levar a imagem de um Brasil diferente daquele visto nos últimos três anos – ao invés da devastação ambiental, a promessa de um paraíso sustentável na Terra. Ao que parece, no entanto, estão enxergando lebre nesse gad… ops, gato.

Na Europa, a escalada do desmatamento e a omissão do governo Bolsonaro no combate às ilegalidades ambientais ainda servem como justificativa para brecar acordos econômicos com o Brasil. Em artigo publicado no Le Monde, 12 membros do Parlamento Europeu, de diversas matizes ideológicas, afirmaram que se oporão “de forma inequívoca” à aprovação do acordo comercial Mercosul-União Europeia. Para eles, o principal problema do acordo é a falta de garantias e condições socioambientais, especialmente na agricultura, o que pode beneficiar os produtores rurais do Mercosul em comparação com os da Europa, que produzem sob regras ambientais mais rígidas. “Não podemos mais fechar os olhos aos impactos na saúde, no clima e na biodiversidade gerados pelos nossos alimentos para além de nossas fronteiras”, diz o artigo. A Folha também repercutiu essa manifestação.

O Valor destacou que a questão ambiental também está no centro das negociações entre Mercosul e os países da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). “Nós compartilhamos as preocupações da UE envolvendo a situação ambiental nos países do Mercosul e estamos em contato com a Comissão Europeia sobre possíveis demandas adicionais”, disse um representante do governo da Suíça, membro da EFTA.

Nos EUA, a oposição política ao desgoverno ambiental no Brasil se mantém forte. Na Folha, Rafael Balago conversou com o deputado democrata Hank Johnson, um dos signatários de uma carta enviada ao presidente norte-americano Joe Biden contra uma aproximação entre os dois países enquanto Bolsonaro estiver no poder. “Há muitos questionamentos se o Brasil poderia se tornar um membro permanente da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Precisamos ter um olhar mais atento a essa questão até que o governo Bolsonaro melhore seus indicadores em ambiente, democracia e Direitos Humanos”, disse o parlamentar.

Em tempo: Os problemas do agronegócio brasileiro com a China ainda estão distantes da questão ambiental, mas isso pode estar com os dias contados. Considerando as metas climáticas dos chineses e movimentos econômicos recentes do país que afetaram o comércio com o Brasil, os produtores de soja e carne podem ter problemas ainda mais complicados no futuro com o mercado asiático. “O agronegócio sustentável precisa de uma nova política externa que assegure a sua inserção internacional”, escreveu Mathias Alencastro na Folha. “Sem ela, será melhor começar a construção do Museu da Soja, que ficará bem ao lado do Teatro de Manaus, símbolo de outro ciclo estancado, o da borracha, e do tempo em que os governantes não pensavam no lugar do Brasil no mundo do futuro”.

 

ClimaInfo, 26 de outubro de 2021.

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