A crise diplomática que quase arruinou a COP26

COP26 papua nova guiné

Bateu na trave, mas por pouco a COP26 não terminou com um fracasso diplomático doloroso. No Climate Home, Joe Lo deu detalhes de uma crise que aconteceu nos bastidores da Conferência de Glasgow em seu último dia, no sábado passado (13/11).

Pouco depois da presidência da COP divulgar sua 3ª e última proposta de decisão, o negociador-chefe do Reino Unido, Archie Young, recebeu uma mensagem de um representante da Papua Nova Guiné prometendo fazer aquilo que é visto como “opção nuclear” em negociações multilaterais como a do clima: vetar totalmente o texto e terminar a COP sem decisão final.

A principal bronca da Papua Nova Guiné era o fato de que o texto de decisão sobre o Artigo 6 do Acordo de Paris, que regulamentou os mercados de carbono sob o novo regime climático, não ter incluído automaticamente os projetos de preservação florestal via REDD+ dentro dos novos mecanismos de comércio de créditos de carbono.

No entanto, o principal representante do país na COP, o advogado norte-americano Kevin Conrad, também é fundador da Coalition for Rainforest Nations (CfRN), uma ONG com projetos de REDD+ em diversos países, o que configurava um conflito de interesses. Para ambientalistas, a exigência de inclusão de todos os projetos de REDD+ nos mecanismos de mercado de carbono sob o Acordo de Paris poderia criar uma distorção no sistema, já que muitos desses projetos possuem problemas metodológicos que dificultam seu acompanhamento técnico.

De acordo com a reportagem, a ameaça de bloqueio total às decisões da COP disparou uma movimentação frenética envolvendo negociadores, representantes da sociedade civil e até mesmo o secretário-geral da ONU, António Guterres, para reverter a situação. A pressão surtiu efeito: ao final, a Papua Nova Guiné aceitou o texto da forma como ele estava.

Em tempo: No Estadão, Alex Gomes e Ocimara Balmant fizeram um balanço da Conferência de Glasgow e de seus resultados. Eles também conversaram com o climatologista Carlos Nobre (USP), que explicou os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento no enfrentamento da crise climática, e abordaram a atuação da juventude nos corredores da COP e nas ruas de Glasgow durante a Conferência. Já o colunista João Gabriel de Lima fez uma análise de sua experiência na cobertura da COP26, destacando em particular a irritação e a frustração dos jovens com os avanços tímidos (quando não inexistentes) das negociações climáticas. Para ele, no entanto, essa juventude tem uma diferença em comparação com outras gerações nessa faixa etária: o clima é uma questão de sobrevivência para eles, algo que os acompanhará pelo resto de suas vidas. Isso traz uma dimensão nova para o ativismo climático, que se reflete cada vez mais no debate político-eleitoral nos países democráticos, com esses jovens se colocando como um grupo eleitoral com grande potencial de mobilização.

 

ClimaInfo, 19 de novembro de 2021.

Clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.