Pobreza, crise climática e a fome em Madagascar

2 de dezembro de 2021

Em julho passado, o Programa Alimentar Mundial da ONU (WFP) destacou a situação dramática de Madagascar, ilha na costa sudeste da África que vive uma crise alimentar histórica. Para a entidade, essa fome tinha relação direta com a mudança do clima, já que a ilha experimenta sua pior seca em quase meio século, que prejudicou a subsistência de mais de 1 milhão de pessoas. No entanto, um estudo de atribuição divulgado nesta semana sinalizou que a crise climática até pode ter um peso, mas não é o fator determinante na fome em Madagascar.

De acordo com a análise do World Weather Attribution, o padrão de precipitação em Madagascar é altamente variável e a seca atual, mesmo sendo mais forte, não é um evento fora daquilo que poderia se esperar de acordo com os padrões climáticos atuais na região. A estimativa dos cientistas apontou para um aumento ligeiro da probabilidade de seca em Madagascar decorrente do aquecimento do planeta, mas o efeito não foi estatisticamente significativo.

Ao mesmo tempo, outros fatores não relacionados com o clima parecem ter mais peso no que diz respeito à insegurança alimentar atual. Em especial, a pobreza parece ser um elemento importante que explica a ocorrência dessa crise: Madagascar é um dos países mais pobres do mundo, com uma proporção de 90% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza. “Isso torna difícil para as comunidades locais lidar com qualquer período prolongado de seca, especialmente quando a agricultura de subsistência e o pastoreio na região dependem fundamentalmente da chuva”, sustentou o relatório.

Ainda assim, os cientistas observaram que o caso de Madagascar deixa ainda mais evidente a importância da adaptação para lidar com os efeitos da mudança do clima nas comunidades e nos países mais pobres. “Adaptar e reduzir as vulnerabilidades a tais eventos é um imperativo moral que não deve ser frustrado por incertezas inerentes às projeções das mudanças climáticas ou análises estatísticas”, explicou o pesquisador Piotr Wolski, da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul), ao Guardian.

Associated Press, NY Times, Reuters e Washington Post repercutiram essa notícia.

 

ClimaInfo, 3 de dezembro de 2021.

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