Desmatamento na Amazônia: pesquisa descobre até prefeito ocupando Terra Pública e vendendo carne a grandes frigoríficos

São Felix do Xingu João Cleber

Enquanto as promessas de rastreamento da cadeia produtiva da carne se acumulam, os frigoríficos seguem comprando gado, de forma direta ou indireta, de fazendas localizadas em Terras Públicas e suspeitas de grilagem. Um levantamento feito pelo Greenpeace Brasil mostrou que gigantes do setor, como a JBS, não estão conseguindo restringir a contaminação de seus produtos por matéria-prima de origem ilegal, impulsionando assim a devastação da floresta.

Um dos casos mais curiosos – e grosseiros – identificados pela análise é o do prefeito de São Félix do Xingu (PA), João Cleber. Ele fornece gado para a JBS, mas a propriedade rural em questão se encontra em uma floresta pública não destinada e sem autorização para desmate. Além disso, o imóvel possui também multas e embargos pelo IBAMA por desmatamento ilegal. Questionado pela Folha, Cleber negou que sua fazenda esteja em área pública e culpou indígenas Kayapó da região pelos focos de queimada registrados na região. A reportagem, no entanto, destaca que a explicação do prefeito não faz sentido: a análise de imagens de satélite pelo sistema PRODES/INPE deixam evidente o avanço da devastação na fazenda e sua localização dentro de uma área pública.

Por falar em prefeitos, a Câmara dos Deputados rejeitou as mudanças feitas pelo Senado no projeto de lei que altera o Código Florestal e manteve o texto original, que autoriza os municípios a definirem unilateralmente o tamanho das áreas a ser protegidas ao redor de rios e lagos, sem limites mínimos nacionais. Para ambientalistas, a decisão é um golpe em cheio no Código Florestal, já que abre espaço para a regularização de áreas invadidas e ocupadas ilegalmente nas margens de corpos d’água, especialmente nas áreas urbanas. O texto segue agora para sanção presidencial. A Folha deu mais detalhes.

Em tempo: Se o Brasil não quiser conter o desmatamento por amor, isso vai acabar acontecendo pela dor mesmo. O alerta é do ambientalista João Paulo Capobianco, ex-secretário-executivo do ministério do meio ambiente na gestão de Marina Silva (2003-2006). Em entrevista ao Valor, Capobianco falou sobre seu novo livro, “Amazônia, uma década de esperança” (Ed. Estação Liberdade), e ressaltou que o país sofrerá pressão cada vez maior do mercado internacional para combater a derrubada da Floresta Amazônica, sob o perigo de perder exportações. “O Brasil irá controlar o desmatamento por bem ou por mal. Por bem será assumir que esta é uma decisão autônoma e soberana do país – combater o desmatamento todo, e não só o ilegal – e implementar ações para controlá-lo. Outra coisa é ser obrigado a fazer pelas barreiras [comerciais] que vão começar a surgir”, explicou.

 

ClimaInfo, 10 de dezembro de 2021.

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