Possível inclusão de gás natural em plano climático europeu irrita investidores

gás natural

O Institutional Investors Group on Climate Change (IIGCC) – que reúne a maioria dos principais gestores de ativos do mundo, como BlackRock e Vanguard – quer a remoção do gás natural do livro de regras para uma economia verde da União Europeia, informam Bloomberg e Reuters. Segundo o grupo, a permanência do gás natural prejudicaria as tentativas da UE de liderar esforços internacionais para estabelecer padrões baseados na ciência para investimentos verdes.

Apesar de algumas das nações da UE considerarem o gás natural como uma fonte de energia fundamental para reduzir sua dependência do carvão, a sua infraestrutura do combustível está associada a vazamentos de metano, gás de forte poder de aquecimento da atmosfera global.

A Comissão Europeia vinha seguindo o conselho de especialistas e não rotulava as usinas de gás natural como investimentos verdes, a menos que limitassem suas emissões a 100g de CO2e/kWh. Porém, conforme informa a Reuters, a proposta inicial de regras feita pela Comissão, que  aceitava este limite, foi enfraquecida pela oposição de países como a Polônia e a Hungria. A última proposta preliminar à qual a Reuters teve acesso, incluia um limite de 270g de CO2e/kwh para as usinas de gás natural até 2030. Isto, segundo o IIGCC, permitiria às empresas de energia usarem o rótulo verde da taxonomia, apesar de não estarem no caminho certo para atingir emissões líquidas zero até 2050 – a meta que os cientistas dizem que o mundo deve alcançar para evitar mudanças climáticas desastrosas.

“À medida que avançamos para o zero líquido, o gás é um grande combustível de transição, então, à medida que você desligar as usinas a carvão em outros países, há mais demanda por gás, mas não há abundância de gás que você pode simplesmente ligar rapidamente”, explica Chris O’Shea, chefe da maior fornecedora de energia doméstica do Reino Unido, a British Gas, para o The Guardian, que traz reportagem sobre a tensão existente na Europa pelo gás russo. Inclusive, o Financial Times e o Valor Econômico destacam que o “Chefe da IEA (International Energy Agency) acusa a Rússia de agravar a crise do gás na Europa”.

Segundo o  The Guardian, acusa-se a Rússia de orquestrar o aprofundamento da crise energética europeia em um momento de tensões geopolíticas aumentadas, retendo até um terço de suas exportações de gás. Para o diretor-executivo da agência, Fatih Birol, a estatal russa Gazprom enviou cerca de 25% menos de gás do que o normal para a Europa nos últimos meses, sendo que houve um aumento na demanda após a crise econômica de 2020. O Financial Times acrescenta ainda que Birol destaca que notou a coincidência que a mudança do fluxo do envio de gás pela Rússia com as tensões políticas com a Ucrânia. Do mesmo modo que a Europa depende do gás russo, a Rússia depende destes consumidores.

Em tempo: Segundo o  The Guardian, a atual fraqueza política do primeiro ministro Boris Johnson deixa a agenda climática em risco e para muitos analistas cria o temor que o compromisso do governo com o net zero esteja enfrentando um dos seus testes mais severos. Johnson enfrenta críticas e bloqueio do partido e de parlamentares conservadores por estarem irritados pelo aumento de preço da energia e do custo de vida. Em outra reportagem, The Guardian e Bloomberg informam que o governo do Reino Unido está sendo processado por duas ações judiciais porque o plano de descarbonização da economia está aquém do necessário para evitar as consequências da emergência climática. Os documentos judiciais foram apresentados na quarta-feira (12) pela ClientEarth (CE) e, separadamente, pela Friends of the Earth (FoE). A CE também alega que o não cumprimento dos orçamentos legais de carbono violaria a Lei de Direitos Humanos, impactando o direito dos jovens à vida e à vida familiar, registra The Guardian.

 

ClimaInfo, 13 de janeiro de 2022.

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