Um “criptocarbono” vendido a US$ 70.000 a tonelada

criptocarbono

A organização se intitula Save Planet Earth (SPE) e emite uma criptomoeda, um token não fungível (nft) anunciado como sendo associado à preservação e recuperação de florestas. O que chamou a atenção de Chloé Farand, do Climate Change News, foi que um nft deles foi vendido pelo absurdo de US$ 70.000, enquanto offsets do mesmo projeto de proteção de uma reserva florestal na Indonésia estava sendo vendido por menos de US$ 20 e, há um ano atrás, por menos de US$ 5.

Investigando o assunto, Farand descobriu que a empresa vendeu cerca de 1.000 créditos de carbono certificados pela Verra por um preço médio de US$ 1.800 dizendo que estava levantando capital para plantar um bilhão de árvores dentro de acordos feitos com os governos do Paquistão, Sri Lanka e as Maldivas.

Farand conversou com gente desses governos que informaram que o tal bilhão estava ligeiramente inflado. O Paquistão disse não ter acordo com a SPE e que não autorizou gerar créditos de carbono em áreas públicas. O pessoal das Maldivas disse que as ilhas dificilmente comportariam o milhão de árvores que a SPE diz estar plantando.

Mais, acompanhando o tráfego de mensagens nas redes sociais da SPE, Farand descobriu que petroleiras se mostraram interessadas na criptomoeda. Além delas, pessoas físicas também entram na roda esperando valorizar seus investimentos.

Em tempo 1: Muita gente não sabe que o “garimpo” de bitcoins consome uma quantidade brutal de eletricidade. Uma parte importante dos datacentres que abrigam a atividade está em países como a China, Índia e EUA, onde as emissões do setor elétrico são significativas. Isso quer dizer que um token que se diz verde pode estar emitindo mais gases de efeito estufa do que a redução da atividade à qual está associado. A Energy Research & Social Science publicou um artigo sobre a poluição provocada pelas criptomoedas e a Bloomberg comentou que congressistas dos EUA querem entender melhor o balanço de carbono do setor.

Em tempo 2: Quase tudo que se fala e se publica sobre mercados de carbono trata da preocupação com a qualidade dos projetos que geram offsets. No entanto, devemos nos preocupar também com o outro lado do balcão: hoje não há como rastrear se um offset está sendo contabilizado por várias empresas. Muitas empresas simplesmente anunciam a compra de offsets, sem dar detalhes que permitiriam identificá-los e não contam se os venderam para outra empresa fazer o mesmo. Para quem se interessar, vale a leitura de um artigo publicado pela Ecosystem Marketplace do ano passado.

 

ClimaInfo, 31 de janeiro de 2022.

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