Alta de combustíveis fósseis e tensões geopolíticas “travam” transição energética

14 de fevereiro de 2022
COP26 combustíveis fósseis

Parece que passado o otimismo dos acordos firmados na COP26, o mundo voltou a escolher o caminho da dor no enfrentamento à crise climática, qual seja, decidir pensar no curto prazo e empurrar com a barriga metas, acordos, objetivos e ações necessários para conter o aquecimento global por meio da transição energética.

A ciência é clara em dizer que precisamos reduzir as emissões de gases de efeito estufa globais em 7% ao ano se quisermos estabilizar a temperatura do planeta abaixo dos dois graus Celsius. Entretanto, em 2021, as emissões aumentaram, ao invés de cair.

Segundo o Valor, “uma combinação tóxica de intransigência política, uma crise energética e realidades econômicas ditadas pela pandemia lançam uma dúvida sobre os progressos obtidos na [Conferência do Clima da] Escócia”. Com isso, mesmo os países “bem-intencionados” estão retomando os caminhos conhecidos rumo ao petróleo, ao gás natural e ao carvão para enfrentar a turbulência geopolítica internacional.

Vale lembrar, no entanto, que o custo da desaceleração rumo à transição energética é ainda maior – dez dos piores desastres climáticos de 2021 custaram à economia mundial US$ 170 bilhões, como destacou a Bloomberg.

Não é à toa que John Kerry, enviado do governo Biden para as questões climáticas, deve estar recorrendo à velha frase “Houston, we have a problem” – usada pela tripulação da Apollo 13 para sinalizar problemas técnicos na missão à lua, em 1970 -, para apontar que o mundo está, novamente, pegando o caminho errado. Dizem, inclusive, que Kerry anda abatido ao ver seus esforços nas tratativas para fechar acordos de redução das emissões inclusive com a China, durante a Conferência do Clima de Glasgow, permanecerem só no papel.

O Financial Times apontou o quanto o aumento do preço do petróleo e do gás, no cenário internacional, está obscurecendo o debate climático e o cumprimento dos acordos firmados na COP26, por parte dos países. A crise do gás e os picos internacionais de preços de energia aumentaram ainda mais a pressão sobre a equipe da COP, liderada por Alok Sharma, que tem como missão fechar acordos verdes e angariar apoios para a Conferência do Clima do Egito (COP27). Tudo isso enquanto aumenta, no próprio Reino Unido, a pressão para relativizar o acordo verde formalizado no país.

Em tempo 1: Os europeu, em contrapartida, parecem ter aprendido uma lição com os eventos extremos que têm atingido o continente com maior frequência e intensidade nos últimos anos. Isso se reflete no comportamento de eleitores europeus, que passaram a priorizar votos “verdes”, segundo estudo que analisou tendência de votos entre 1994 e 2019.

Em tempo 2: Também na Europa, Roger Cox, advogado que ganhou decisões judiciais contra o governo holandês e a Shell em 2021, obrigando a petroleira a reduzir suas emissões de carbono em 45% até 2030, vai receber um prêmio de 10 mil euros da Alemanha, por “contribuir com a paz mundial”. Os organizadores do Prêmio Dresden justificaram a escolha dizendo que Cox trouxe uma contribuição inovadora na luta pelo cumprimento das metas climáticas globais. O mesmo prêmio já foi concedido para ativistas de direitos civis e para o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev. A Associated Press traz detalhes. O Guardian falou do crescimento dos casos judiciais envolvendo a crise climática, a partir de ações protocoladas por ativistas.

 

ClimaInfo, 14 de fevereiro de 2022.

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