Com eleições no radar, hidrelétricas voltam à pauta na Amazônia

hidrelétricas Amazônia
REUTERS / Alamy

Quase uma década após o início da construção de Belo Monte, o governo federal volta a ensaiar a implementação de novos projetos de geração hidrelétrica na Amazônia em meio às eleições presidenciais e à sombra da crise hídrica que atingiu boa parte do Brasil em 2021, a pior em um século. Três usinas potenciais estão na pauta de Brasília: a de Jamanxim (881 MW), Cachoeira do Caí (802 MW) e Cachoeira dos Patos (528 MW), todas na bacia do Tapajós. Essas usinas faziam parte de um megaprojeto que naufragou em meados da década passada depois da “ressaca” de Belo Monte e da crise econômica de 2015-2016.

O Diálogo Chino abordou a preocupação de ambientalistas e lideranças indígenas com a possibilidade de essas usinas saírem do papel sob o governo de Jair Bolsonaro, um presidente com preocupação abaixo de zero quando o assunto é meio ambiente e direitos indígenas. “As barragens mudam o curso natural da água, impactando a biodiversidade, a população de peixes e a vida dos Povos da Amazônia”, explicou Juvêncio Cardoso, líder Baniwa e mestre em ciências ambientais pela Universidade Federal do Amazonas. O legado socioambiental de Belo Monte também reforça a desconfiança dos Povos Indígenas com esse tipo de projeto. “A experiência dos Povos do Xingu é que hidrelétrica na Amazônia não dá certo. Não traz desenvolvimento e não é sustentável”, observou a ativista Antônia Melo, despejada de sua casa em Altamira em 2014 para a construção de Belo Monte.

Um levantamento mostrou que, além das 32 hidrelétricas em operação na Amazônia, outras 31 usinas estão em algum estágio de planejamento. Além disso, 57 pontos da região foram mapeados e avaliados como de alto potencial para geração hidrelétrica, o que pode fundamentar futuros projetos de usinas em plena floresta amazônica. Parte importante do impulso recente para as hidrelétricas na Amazônia está na oferta de capital chinês para os projetos: investidores da China já estão diretamente associados a seis das 63 usinas em operação e sob planejamento.

Em tempo: Enquanto isso, um estudo conduzido por pesquisadores da Cornell University (EUA) utilizou inteligência artificial para avaliar centenas de projetos de hidrelétricas na Pan-Amazônia e identificar quais seriam menos danosos em termos socioambientais. Essa análise considera não apenas as características ecossistêmicas, o potencial hidrelétrico e a ocupação humana na localidade, mas também os reflexos das usinas existentes nesse ambiente. O Mongabay destacou os principais pontos deste trabalho.

 

ClimaInfo, 25 de março de 2022.

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