Acordo com EUA alivia pressão, mas não diminui necessidade de gás russo na Europa

gás Russo
REUTERS/Ilya Naymushin

Os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram nesta 6ª feira (25/3) um acordo para permitir o fornecimento de gás natural (fóssil) liquefeito (GNL) norte-americano aos países europeus, de maneira a reduzir a dependência deste mercado do gás natural da Rússia. A ideia é que os EUA forneçam pelo menos 15 bilhões de metros cúbicos de gás ao mercado europeu neste ano, com a possibilidade desse volume aumentar para 50 bilhões anuais até 2030. O montante oferecido para 2022, no entanto, representa apenas 10% do total de gás fornecido pelos russos à Europa, o que pode ter efeito limitado na redução da exposição dos países europeus à pressão geopolítica de Moscou. Bloomberg, NY Times, Reuters, Washington Post e Valor, entre outros, deram mais informações.

O acordo também cita os compromissos de EUA e UE sob o Acordo de Paris, reforçando a disposição mútua com a ação climática. O problema é que, como abordado pelo Guardian, a proposta perpetua o uso de gás natural, um combustível fóssil, em um momento no qual os países tinham que estar se distanciando deste tipo de energia. “Reduzir a dependência de combustíveis fósseis é a única maneira de deixar de ser vulnerável aos caprichos das indústrias gananciosas e da geopolítica”, defendeu Kelly Sheehan, do Sierra Club.

Na mesma linha, Farhad Manjoo escreveu no NY Times sobre a relação entre energia fóssil e governos autoritários, e sobre a necessidade de se acelerar a transição para a energia limpa como uma maneira de tirar poder desses governantes. “Ao fazer isso, podemos abordar duas graves ameaças ao planeta de uma só vez: a ameaça dos hidrocarbonetos, que aquece o clima e polui o ar, e a dos ditadores que governam o seu suprimento”.

Por outro lado, como O Globo destacou, analistas esperam que o acordo EUA-UE sobre o gás natural tenha efeitos negativos sobre o custo da energia no Brasil. Isso porque o mercado brasileiro importa GNL dos EUA para a geração termelétrica e, se não houver um aumento na produção norte-americana, o fornecimento de gás ao mercado europeu tornará os preços globais do combustível ainda mais altos. “Isso é ruim para o Brasil, pois se tivermos uma nova seca vamos precisar continuar comprando mais GNL para abastecer as térmicas e esse cenário de alta vai se refletir no valor da energia elétrica paga pelos brasileiros”, explicou Mauro Chavez, da consultoria Wood Mackenzie.

A gente aqui do ClimaInfo acha que isso será ruim para o Brasil se o país continuar a enfiar o pé na jaca dos combustíveis fósseis. Se a expansão da geração elétrica for feita com as fontes eólica e solar, seremos muito menos expostos às flutuações do preço do gás fóssil.

Em tempo: No Climate Home, Andrew Norton escreveu sobre a preocupação crescente de ativistas e especialistas com os reflexos da invasão russa à Ucrânia e das tensões crescentes entre Rússia e Estados Unidos nas negociações internacionais para o clima. Já se enxerga fissuras entre o G7, grupo das sete economias mais ricas do mundo, e o G20, que inclui economias emergentes; enquanto o primeiro trabalha para isolar Moscou e transformar Putin em um pária internacional, o segundo é mais reticente e, ao menos por ora, não pretende excluir os russos da próxima cúpula do grupo, marcada para novembro em Bali, na Indonésia. “Se a questão da Rússia impedir a coordenação entre G7 e G20, diminuem as chances de termos metas [climáticas] fortalecidas [na COP 27, em Sharm el-Sheikh, no Egito]”.

 

ClimaInfo, 28 de março de 2022.

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