Crise climática intensifica insegurança alimentar no Afeganistão

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Mstyslav Chernov/AP Photo

A segurança alimentar é um problema crônico no Afeganistão há décadas. Desde a invasão soviética, no final dos anos 1979, o país entrou em uma espiral inacabável de conflitos internos e externos que destruíram sua economia e intensificaram tensões políticas entre os diferentes grupos étnicos que compõem a sociedade afegã. Tudo isso culminou em agosto do ano passado, quando Cabul caiu novamente nas mãos dos fundamentalistas do Talibã, isolando (mais uma vez, aliás) o país do resto do mundo.

Para muitos afegãos, no entanto, o retorno do Talibã representa um problema até menor quando comparado com os impactos da seca que aflige o país há anos. De acordo com a Bloomberg, estima-se que pelo menos 10 milhões de pessoas, ¼ da população afegã, esteja à beira da fome, inclusive em grandes centros urbanos, por causa do colapso dos sistemas de produção agrícola e o fechamento dos canais de importação e distribuição de comida. “A única coisa que importa agora é que sobrevivemos e comemos. Somos como animais selvagens na selva lutando por uma fatia de pão”, lamentou Sayed Ehsan, um ex-professor que virou taxista depois do Talibã fechar a escola onde ele trabalhava. “Este é o estado atual do Afeganistão”.

Clima e conflito também são os ingredientes da insegurança alimentar na África Ocidental, com cerca de 27 milhões de pessoas sofrendo com a fome causada pela disrupção na distribuição de comida e os efeitos da guerra na Ucrânia sobre as importações de alimentos básicos no mercado africano. Ao mesmo tempo, como a Reuters explicou, esses países – Burkina Faso, Chade, Mali, Níger e Nigéria – também convivem com insurgentes fundamentalistas islâmicos, responsáveis pela expulsão de milhões de pequenos produtores rurais de suas terras.

Em tempo: Ministros e especialistas de países africanos e de outras nações vulneráveis à mudança do clima estão se articulando para pressionar os negociadores internacionais na ONU a ampliar a oferta de financiamento para adaptação climática, mas sem o risco de esses recursos “não aparecerem”, tal como aconteceu com a promessa dos US$ 100 bi anuais para financiamento climático a partir de 2020. O Climate Home destacou essa movimentação e os principais obstáculos para a expansão do financiamento para adaptação – em particular, a reticência dos EUA em assumir suas responsabilidades climáticas.

 

ClimaInfo, 8 de abril de 2022.

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