Países petroleiros querem “rediscutir” papel dos combustíveis fósseis em transição energética

12 de abril de 2022
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Stefan Wermuth/Bloomberg

A crise energética causada pela alta nos preços internacionais dos combustíveis fósseis animou a indústria do petróleo a sair das cordas nas negociações sobre mudança do clima na ONU. De acordo com a Bloomberg, representantes do setor querem que as presidências das próximas Conferências do Clima – a COP27, programada para novembro em Sharm el-Sheik (Egito), e a COP28, que acontecerá nos Emirados Árabes Unidos (EAU) no ano que vem – deem um espaço mais favorável para a sua participação nas conversas sobre transição energética.

O apelo está ressoando entre os futuros anfitriões das negociações climáticas. “Os produtores de petróleo se sentiram indesejados na COP26, se sentiram encurralados”, disse o ministro de energia dos EAU, Suhail al-Mazrouei. “Agora, somos como super-heróis”. Diferentemente do que se viu em Glasgow no ano passado, o governo do Egito já sinalizou que não pretende barrar o patrocínio de empresas ligadas à indústria dos combustíveis fósseis para a COP27. Outro sinal pouco animador é a proximidade dos egípcios com o governo da Arábia Saudita, notório causador-de-problemas em COPs climáticas.

Os países produtores de petróleo querem aproveitar a deixa para reposicionar a questão da transição energética nas nações pobres. Para eles, uma transição justa não pode privar esses países pobres de usufruir de seus recursos de hidrocarbonetos; ao mesmo tempo, qualquer demanda por ação adicional desses países na adoção de fontes renováveis dependeria de apoio financeiro e tecnológico direto dos governos ricos.

Esse recorte do debate sobre justiça climática ignora solenemente um problema grave nesses países: o autoritarismo. Ao mesmo tempo em que esses governos defendem abordagens mais flexíveis para a transição energética, eles impõem obstáculos à participação ativa da população na discussão e na definição de políticas públicas para o clima. Na prática, como observou Bill McKibben no Guardian, essas autocracias tentam a todo custo manter o único elemento de força que elas possuem no mercado global – suas vastas reservas de petróleo, gás e carvão. “A guerra grotesca de Putin”, escreveu McKibben, “destaca as maneiras pelas quais o combustível fóssil constrói autocracias e o poder que o controle de suprimentos escassos dá aos autocratas”.

Em tempo: Representantes da União Europeia e da OPEP se reuniram em Viena nesta 2ª feira (11/4) para discutir caminhos para estabilizar os preços internacionais do petróleo em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia e as sanções internacionais contra o governo Putin. A conversa terminou sem avanços: enquanto os europeus pediram aos países produtores de petróleo que ampliem sua produção para facilitar a substituição dos combustíveis russos, o cartel argumentou que não teria capacidade para aumentar a produção nessa magnitude. A OPEP tem resistido às pressões de Estados Unidos e de outros países para aumentar a produção. A notícia é da Reuters.

 

ClimaInfo, 12 de abril de 2022.

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