Combate ao desmatamento: estudo aponta “ponto cego” no rastreamento de commodities

1 de maio de 2022
Commodities ponto cego
Porto de Barcarena (PA)Foto: Reprodução

Um novo estudo explicitou como a indústria de commodities agrícolas ainda enfrenta dificuldades sérias para garantir que seus produtos não possuem relação com desmatamento e ilegalidades ambientais ao redor do mundo.

De acordo com a análise, cerca de 40% das commodities que são produzidas em áreas de pressão sobre florestas tropicais são adquiridas pelos grandes compradores por meio de terceiros, o que cria um “ponto cego” para os mecanismos de rastreamento da origem do produto e abre caminho para que mercadorias como soja e carne bovina produzidas em áreas desmatadas ilegalmente sejam comercializadas sem qualquer restrição.

Publicado na revista Science Advances, o estudo foi realizado por uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo cientista Erasmus zu Ermgassen, da Universidade Católica de Louvain (Bélgica). A pesquisa analisou dados de comercialização de commodities como soja, carne bovina, cacau e óleo de palma, com foco naquelas produzidas em países com florestas tropicais, como Brasil, Indonésia, República Democrática do Congo e outros países da costa oeste africana.

A posição desses intermediários – ou traders – é estratégica para o funcionamento desse mercado. A maior parte dessas commodities é vendida aos clientes por essas empresas, que compram diretamente dos produtores. Isso cria um gargalo que dificulta o monitoramento por parte dos consumidores, que não possuem necessariamente todos os dados relativos à origem da mercadoria. Assim, quem acaba tendo mais condição para fazer esse acompanhamento são as próprias traders.

“Os mercados desses produtos têm milhões de consumidores e centenas de milhares de produtores, mas é meia dúzia de empresas, as traders, que controlam mercado na etapa de comercialização”, comentou Mairon Bastos Lima, pesquisador do Instituto de Ambiente de Estocolmo e coautor do estudo, para Rafael Garcia n’O Globo. “Elas são um ponto de alavancagem para que se consiga imprimir mudanças setoriais em grande escala, e não apenas em um ou outro produtor, ou um nicho pequeno de consumidores”.

Em tempo: Por falar em commodities, Terence McCoy e Júlia Ledur publicaram uma reportagem interativa no Washington Post ressaltando como o consumo de carne bovina brasileira pelo mercado norte-americano está associado com o avanço recente do desmatamento na Amazônia. Só no ano passado, os EUA compraram mais de 145 mil toneladas do produto brasileiro, tornando-se assim o 2º maior comprador de carne bovina do país. Analistas esperam que a demanda dobre neste ano, mesmo com o preço em alta do produto no mercado internacional. A maior fornecedora dessa carne é a gigante JBS, que vem tropeçando com suas políticas e metas de combate ao desmatamento e monitoramento da cadeia produtiva.

 

ClimaInfo, 2 de maio de 2022.

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