Ciência: por que os modelos climáticos estão tão “quentes”?

modelos climáticos
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Os modelos climáticos são uma das ferramentas mais importantes na ciência do clima: eles permitem fazer projeções de cenários futuros de aquecimento, facilitando a identificação e a análise de consequências potenciais do clima em transformação. No entanto, como destacou a Bloomberg, uma coisa tem chamado a atenção dos cientistas nos últimos anos: um número preocupante de modelos tem projetado cenários de aquecimento acelerado, fora dos limites elásticos de “normalidade” observados nos modelos em geral.

Um artigo publicado nesta semana na Nature começou a desvendar o mistério. Uma das conclusões é que avanços recentes na compreensão da física das nuvens tiveram um efeito colateral inesperado nas projeções de aquecimento de alguns modelos climáticos. Isso explica, em parte, o “estouro de boiada” observado em algumas projeções que mostram cenários acelerados de aumento de temperatura.

A questão é que esses modelos climáticos mais quentes podem gerar distorções nas projeções, dificultando uma análise mais cuidadosa dos cenários de aquecimento. Não à toa, o IPCC observou em seu relatório mais recente que os modelos quentes não podem ser tomados de maneira similar com outros tipos de modelo – ou seja, diferentemente do que tem sido business-as-usual na pesquisa científica até agora, nem todos os modelos são iguais uns ao outros. Tanto que, no próprio relatório, os modelos quentes receberam menos ênfase e o IPCC acrescentou outra camada de análise em seus resultados.

Essa não é uma preocupação gratuita: um dos sucessos da ciência climática tem sido exatamente o grau de confiabilidade das projeções feitas nas últimas décadas. “A última coisa que queremos fazer agora é dizer a todos que teremos muito mais aquecimento do que o provável”, observou Zeke Hausfather, um dos autores do artigo. Uma das recomendações do texto aos demais cientistas é pensar na mudança do clima menos em termos cronológicos (quando determinado aquecimento vai ocorrer) e mais em termos de níveis de aquecimento, o que permitiria driblar as incertezas inerentes ao estudo do clima.

 

ClimaInfo, 5 de maio de 2022.

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