O bilionário “verde” e os negacionistas do clima: casamento de conveniência ou amor verdadeiro?

Elon Musk extrema direita
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Ao melhor estilo do Vale do Silício, Elon Musk não foge da polêmica. Pelo contrário: se não houver polêmica, o jeito é criar alguma. Isso se reflete em sua trajetória desde os tempos de PayPal, quando conseguiu seu primeiro bilhão de dólares, e ganhou força nos últimos anos com uma gama de empreendimentos ambiciosos nos mais variados setores: carros elétricos, foguetes espaciais, internet por satélite, inteligência artificial e redes sociais.

Essa conduta de “ir contra a maré” já rendeu muito dinheiro para Musk – a Tesla que o diga. Chamado de louco nos primeiros anos da montadora de veículos elétricos, hoje o empresário é visto como um visionário que antecipou o frenesi da indústria automobilística pela tecnologia elétrica que hoje toma gigantes como Ford, General Motors e Volkswagen. As mudanças no contexto, especialmente a gravidade crescente da crise climática e a necessidade de diminuir o consumo de combustíveis fósseis, colocaram a Tesla na dianteira dessa corrida e transformaram Musk em um dos principais nomes da economia dita “verde”.

Entretanto, nos últimos tempos, o Musk “empreendedor verde” tem perdido espaço para seu lado polemista. Noves fora a compra ainda não executada do Twitter, feita por um pretenso desejo de defender a “liberdade de expressão”, Musk tem se aproximado decisivamente de setores políticos e econômicos que nada têm a ver com a agenda da sustentabilidade e da economia verde.

Na semana passada, Musk se rebelou contra os índices de investimento ESG depois da Tesla ficar de fora do S&P 500 Index, uma das principais referências de sustentabilidade no mercado financeiro. Ao invés de responder às dúvidas que se acumulam sobre os impactos sociais e de governança de sua operação, o bilionário preferiu chamar toda a discussão sobre ESG de “fraude”. Bloomberg, Forbes, NY Times e Quartz repercutiram a irritação dele.

Por falar em fraude, Musk também abraçou definitivamente a extrema-direita que tomou conta do Partido Republicano nos EUA, aliando-se ao ex-presidente Donald Trump e à promoção de teorias conspiratórias contra o governo Joe Biden e os democratas. Musk também não se furtou de fazer um photo-op com o presidente da República brasileiro na última 6a feira (20/6), durante sua visita relâmpago ao Brasil. Como o Gizmodo bem colocou em sua manchete, a passagem de Musk pelo Brasil completa a transformação dele em “supervilão” internacional, alguém que deixou a timidez do passado para abraçar tudo o que há de mais atrasado e retrógrado na política internacional.

O que faz alguém que se coloca como um desbravador do mundo pós-carbono se aproximar de pessoas e ideias tão nefastas e atrasadas? Será a conveniência econômica do momento? Ou uma confidência política que até agora estava escondida sob uma máscara esverdeada? Com a palavra, o homem mais rico do mundo.

 

ClimaInfo, 23 de maio de 2022.

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