O bilionário “verde” e os negacionistas do clima: casamento de conveniência ou amor verdadeiro?

22 de maio de 2022
Elon Musk extrema direita
Getty

Ao melhor estilo do Vale do Silício, Elon Musk não foge da polêmica. Pelo contrário: se não houver polêmica, o jeito é criar alguma. Isso se reflete em sua trajetória desde os tempos de PayPal, quando conseguiu seu primeiro bilhão de dólares, e ganhou força nos últimos anos com uma gama de empreendimentos ambiciosos nos mais variados setores: carros elétricos, foguetes espaciais, internet por satélite, inteligência artificial e redes sociais.

Essa conduta de “ir contra a maré” já rendeu muito dinheiro para Musk – a Tesla que o diga. Chamado de louco nos primeiros anos da montadora de veículos elétricos, hoje o empresário é visto como um visionário que antecipou o frenesi da indústria automobilística pela tecnologia elétrica que hoje toma gigantes como Ford, General Motors e Volkswagen. As mudanças no contexto, especialmente a gravidade crescente da crise climática e a necessidade de diminuir o consumo de combustíveis fósseis, colocaram a Tesla na dianteira dessa corrida e transformaram Musk em um dos principais nomes da economia dita “verde”.

Entretanto, nos últimos tempos, o Musk “empreendedor verde” tem perdido espaço para seu lado polemista. Noves fora a compra ainda não executada do Twitter, feita por um pretenso desejo de defender a “liberdade de expressão”, Musk tem se aproximado decisivamente de setores políticos e econômicos que nada têm a ver com a agenda da sustentabilidade e da economia verde.

Na semana passada, Musk se rebelou contra os índices de investimento ESG depois da Tesla ficar de fora do S&P 500 Index, uma das principais referências de sustentabilidade no mercado financeiro. Ao invés de responder às dúvidas que se acumulam sobre os impactos sociais e de governança de sua operação, o bilionário preferiu chamar toda a discussão sobre ESG de “fraude”. Bloomberg, Forbes, NY Times e Quartz repercutiram a irritação dele.

Por falar em fraude, Musk também abraçou definitivamente a extrema-direita que tomou conta do Partido Republicano nos EUA, aliando-se ao ex-presidente Donald Trump e à promoção de teorias conspiratórias contra o governo Joe Biden e os democratas. Musk também não se furtou de fazer um photo-op com o presidente da República brasileiro na última 6a feira (20/6), durante sua visita relâmpago ao Brasil. Como o Gizmodo bem colocou em sua manchete, a passagem de Musk pelo Brasil completa a transformação dele em “supervilão” internacional, alguém que deixou a timidez do passado para abraçar tudo o que há de mais atrasado e retrógrado na política internacional.

O que faz alguém que se coloca como um desbravador do mundo pós-carbono se aproximar de pessoas e ideias tão nefastas e atrasadas? Será a conveniência econômica do momento? Ou uma confidência política que até agora estava escondida sob uma máscara esverdeada? Com a palavra, o homem mais rico do mundo.

 

ClimaInfo, 23 de maio de 2022.

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