Relatório coloca em xeque metas climáticas de grandes empresas

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Reprodução vídeo Reuters

A proliferação de compromissos corporativos de net-zero nos últimos anos não está se traduzindo em ações práticas para redução das emissões no curto prazo e para a descarbonização dos negócios no longo prazo. O alerta é da Net Zero Tracker, que divulgou nesta semana um balanço dessas metas de grandes empresas e governos subnacionais. O principal obstáculo, de acordo com a análise, está na falta de critério para mensurar e comparar essas metas de emissões líquidas zero, que se reflete na falta de detalhes e de planos de ação mais evidentes para viabilizar esses objetivos.

Um exemplo dessa distorção está nas grandes empresas de capital aberto. Por um lado, mais de um terço delas (702) possuía metas net-zero em dezembro de 2021, acima das 417 identificadas um ano antes. Mais de 90% do PIB global está contemplado agora por metas de emissões líquidas zero. Por outro lado, 65% dessas metas corporativas (456) seguem sem atender aos padrões mínimos de relato. Ou seja, são intenções vagas, voltadas à comunicação com investidores e clientes, sem se desdobrar em ações e estratégias dentro das empresas.

Outra lacuna está principalmente nas emissões indiretas (Escopo 3), associadas às cadeias de fornecedores e de distribuição: apesar de 60% das grandes empresas de capital aberto afirmarem cobrir esse tipo de emissão em seus inventários, apenas 38% consideram a totalidade dessas emissões. Assim, mais de 60% das empresas acompanham apenas parcialmente as emissões de Escopo 3 ou simplesmente as ignoram em suas análises corporativas.

“O crescimento das metas net-zero oferece uma estrutura de governança de escala e escopo sem precedentes e abre um caminho viável para a descarbonização global, mas nossa análise mostra claramente as principais falhas na prática atual de definição dessas metas líquidas zero pelas empresas”, observou Frederic Hans, analista do NewClimate Institute e coautor do relatório. Na mesma linha, o professor Thomas Hale, da Universidade de Oxford (Reino Unido), defendeu um detalhamento maior dessas metas corporativas e uma obrigatoriedade para elas. “Precisamos mudar de promessas voluntárias ou aspiracionais para planos de implementação concretos com responsabilidade real. Para as empresas, isso já está se tornando um requisito regulatório em muitas jurisdições”. 

A Reuters repercutiu a análise da Net Zero Tracker.

 

ClimaInfo, 14 de junho de 2022.

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