Decisão da Suprema Corte compromete liderança climática dos EUA

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John Brighenti/Flickr

Joe Biden chegou ao governo dos EUA no ano passado com um objetivo bastante explícito: retomar o protagonismo do país no enfrentamento à crise climática, depois de quatro anos de retrocessos políticos sob a gestão de Donald Trump. Para isso, o novo presidente contava com sua capacidade de ação executiva, por meio de agências regulatórias, para driblar eventuais desentendimentos políticos com o Congresso.

Desde 5a feira (30/6), isso não é mais possível. Com o enfraquecimento da autoridade da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, decidida pela Suprema Corte, será impossível para a agência limitar os níveis de poluentes climáticos emitidos pelas usinas termelétricas. Uma parte substancial da capacidade de ação da Casa Branca na seara climática foi perdida.

Os reflexos dessa perda, no entanto, não se limitam aos EUA: parte importante do ímpeto global para reverter o cenário atual e reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode ter sido jogada na lata de lixo pelos juízes conservadores em Washington.

No Climate Home, Joe Lo e Chloé Farand destacaram a “decepção” de negociadores e observadores climáticos ao redor do mundo, que enxergaram na decisão da Suprema Corte um tiro certeiro no coração da credibilidade internacional dos EUA na questão climática. “Infelizmente, essa decisão chocante é um reflexo da influência de décadas da indústria de combustíveis fósseis na política dos EUA”, comentou Bill Hare, da Climate Analytics. “Isso não é novidade para o resto do mundo: nos últimos 30 anos, houve golpe após golpe, seja em termos de falha por parte do Congresso em agir, ou desafios legais às políticas climáticas”. 

Certamente, ficará mais difícil para o governo Biden cobrar mais ambição dos demais países enquanto os EUA seguem travados na agenda climática. “Isso coloca o governo em uma posição muito fraca de negociação, já que suas tentativas de fazer com que todos aumentem sua ambição serão recebidas com ceticismo”, afirmou à Reuters o embaixador de Belize na ONU.

Até mesmo a China “tirou uma casquinha” da situação: o ministério de relações exteriores de Pequim demonstrou “preocupação” com a incapacidade dos EUA de cumprir seus objetivos climáticos. As autoridades chinesas pediram que o governo Biden “cumpra com suas responsabilidades históricas e mostre mais ambição e ação para além de slogans”.

De toda forma, a Casa Branca tenta demonstrar que, a despeito da decisão, a ação climática não está totalmente inviabilizada nos EUA. John Kerry, enviado especial de Biden para o clima, disse à Associated Press que a decisão dos juízes “atrasa” a implementação das políticas climáticas norte-americanas, mas as metas nacionais serão cumpridas. “Estamos absolutamente convencidos de que podemos atingir nossos objetivos”. O NY Times fez também um apanhado dos caminhos possíveis para que Biden e os EUA continuem avançando na questão climática.

 

ClimaInfo, 4 de julho de 2022.

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