De combustível mais barato a doação de trator: PEC Kamikaze abre caminho para gastança pré-eleitoral

PEC kamikaze corrida eleitoral
Marcos Oliveira/Agência Senado

O governo federal e seus aliados no Congresso foram para o tudo-ou-nada no ultimate fight eleitoral. A aprovação da PEC Kamikaze, que drena mais de R$ 40 bilhões de reais até dezembro com subsídios para combustíveis fósseis e ampliação pontual de benefícios sociais, representa a cartada política mais arriscada do atual presidente da República para angariar votos e tentar reverter seu péssimo desempenho nas pesquisas eleitorais. O problema é que, no final, quem ficará com o prejuízo será a população brasileira.

“O governo e seus aliados entraram no modo desespero eleitoral e estão construindo uma herança terrível para o quadriênio 2023-2026”, disse o ex-ministro Pedro Malan para O Globo. Outros ex-ministros e economistas ouvidos pela reportagem ressaltaram o impacto fiscal que a emenda terá: para baixar a inflação momentaneamente no curto prazo, o governo jogará toda a pressão inflacionária para depois de dezembro, o que pode comprometer a capacidade de recuperação da economia brasileira no médio prazo.

“É claro que o pacote de bondades terá efeito na economia nos próximos meses, mas é desastroso imaginar como o Brasil faz esse tipo de concessão em ano eleitoral”, disse o empresário Pedro Passos, da Natura, a Mônica Scaramuzzo no Valor. “O ano de 2023 vai ser muito duro para qualquer governo que for responsável”.

Enquanto todos olhavam para a PEC Kamikaze, o Congresso aproveitou o momento para estourar os últimos cadeados dos cofres públicos na véspera da eleição. Como Daniel Weterman mostrou no Estadão, os parlamentares aproveitaram a votação para aprovar dois projetos que escondem ainda mais o tal “orçamento secreto” – a aplicação de emendas do relator ao Orçamento, distribuídas sem transparência entre os congressistas – e libera o governo a distribuir desde cestas básicas até tratores em plena temporada eleitoral.

Enquanto isso, o Valor destacou a expectativa do mercado em torno de novos aumentos dos combustíveis pela Petrobras. Por ora, a perspectiva de uma recessão econômica global, somada com os efeitos de uma nova onda de COVID na China, está deixando analistas cautelosos quanto à demanda por petróleo nos próximos meses. Com isso, os preços internacionais registraram queda nos últimos dias, o que pode facilitar a vida da Petrobras para evitar novos reajustes nas próximas semanas.

Em tempo: A disparada do valor dos créditos de carbono associados à produção de biocombustíveis, os CBios, motivou um pedido do ministério de minas e energia ao CADE para apurar indícios de infração dentro do mercado. Os CBios foram criados no âmbito do programa Renovabio para incentivar a produção e o consumo de biocombustíveis. No entanto, a cotação destes títulos mais do que triplicou em 2022, passando a marca dos R$ 200 no final de junho. A suspeita é que os produtores de etanol e biodiesel estariam manipulando os preços para aproveitar o encarecimento dos combustíveis nos últimos meses. A notícia é da Folha.

 

ClimaInfo, 15 de julho de 2022.

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