Gigantes de tecnologia utilizam ouro ilegal de Terras Indígenas do Brasil

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REUTERS/Nacho Doce

Um intrincado esquema de exploração e comércio ilegal de ouro liga garimpeiros em Terras Indígenas no Brasil com gigantes do setor de tecnologia, como Apple e Microsoft. Uma investigação divulgada pela Repórter Brasil desfiou o novelo do ouro ilegal a partir da atuação de duas empresas: a brasileira Marsam, que comercializa as pepitas irregulares para o exterior, e a italiana Chimet, que refina o metal e o vende para as principais fabricantes de smartphone e notebooks do mundo.

A sucessão de ilegalidades começa na Terra Indígena Kayapó, no Pará. Lá, mesmo com a exploração sendo proibida, os garimpeiros atuam sem grandes restrições. O ouro é levado depois para uma empresa de nome CHM do Brasil, comandada por dois cidadãos italianos, que depois repassa o metal ilegal para a Chimet. Dados da Polícia Federal indicam que as duas empresas movimentaram mais de R$ 2 bilhões entre si no período de 2015 a 2020. Por fim, a Chimet vende o ouro processado para gigantes como Amazon, Apple, Google e Microsoft.

Outro esquema acontece nas Terras Indígenas Yanomami e Munduruku. Nesse caso, a empresa FD’Gold faz a intermediação entre os garimpeiros e a Marsam – curiosamente, as duas são do mesmo proprietário, o empresário Dirceu Frederico Sobrinho. A Marsam, por sua vez, também faz o refino do metal e o vende para as fabricantes de produtos eletrônicos. A FD’Gold é ré em uma ação movida pelo Ministério Público Federal que cobra uma indenização de R$ 1,75 bilhão por danos ambientais associados à exploração ilegal de ouro nas reservas indígenas. Em maio, uma carga de 77 kilos ouro avaliada em R$ 23 milhões foi apreendida pela PF no interior de São Paulo, e Sobrinho admitiu ser o dono da carga, embora nege a origem ilegal.

Teoricamente, as empresas compradoras do ouro processado contam com certificadoras responsáveis por auditoria nos fornecedores, para garantir a legalidade do material e da operação. Entretanto, a falta de atenção dessas certificadoras, somada à fiscalização falha sobre o comércio de ouro no Brasil, cria uma lacuna que permite aos criminosos vender o ouro ilegal, driblando eventuais critérios e procedimentos de due diligence.

A Reuters também repercutiu essa investigação.

 

ClimaInfo, 26 de julho de 2022.

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