Lei climática nos EUA é bem-recebida por gigantes da indústria fóssil

EUA lei climática
Stefani Reynolds/AFP/Getty

Este título pode parecer curioso, ao menos no primeiro momento. O Senado dos EUA acaba de aprovar o primeiro grande pacote de medidas contra a mudança do clima, com investimentos bilionários do governo para reduzir emissões de gases de efeito estufa e impulsionar a energia renovável.

Historicamente, uma notícia como essa estaria causando puxões de cabelo e gritaria entre os lobistas do Big Oil em Washington, que passaram as últimas três décadas demonizando qualquer iniciativa climática no Congresso norte-americano. Agora, no entanto, o discurso é o inverso: CEOs e executivos de empresas como ExxonMobil e Chevron aplaudiram o pacote climático aprovado pelos democratas. O que aconteceu?

A Bloomberg arriscou parte da resposta. Por um lado, a proposta aprovada pelos senadores governistas em Washington não prevê as medidas mais radicais defendidas por parlamentares progressistas, como uma moratória da exploração de petróleo e gás natural em áreas governamentais e o fim dos subsídios oficiais para o consumo de combustíveis fósseis. Essas mudanças foram forçadas pelo tabuleiro político complicado que os democratas encaram hoje no Congresso: o partido do presidente Joe Biden tem o controle da Câmara e do Senado, mas com uma margem de manobra ínfima. A oposição de democratas bem relacionados com a indústria fóssil fez com que o projeto perdesse boa parte de sua ambição inicial.

Por outro lado, o texto aprovado pelo Senado contém algumas restrições à indústria fóssil, mas sua aplicação está limitada, na prática, a empresas de pequeno porte do setor. Um exemplo está no preço das licenças de exploração em áreas públicas: a nova lei aumenta o valor cobrado pelo governo das empresas que ganham os direitos de exploração. O novo valor mantém o Big Oil no jogo, mas dificulta bastante a participação de empresas menores nesses leilões.

Ao mesmo tempo, ativistas e grupos sociais na linha de frente da ação climática não deixaram de lamentar a redução da ambição do pacote climático democrata no Congresso. Para eles, a proposta dá uma sobrevida indesejável à indústria dos combustíveis fósseis, o que diminui as chances da humanidade evitar os piores efeitos da mudança do clima.

“Este foi um acordo do tipo ‘pegar ou largar’ entre um barão do carvão [em alusão ao senador democrata Joe Manchin, principal obstáculo político para aprovação do pacote climático] e líderes democratas, em que qualquer oposição de legisladores ou comunidades da linha de frente foi anulada. Foi um processo inerentemente injusto, um acordo que sacrifica inúmeras comunidades e não nos leva a nenhuma mudança necessária, mas que está sendo apresentado como uma legislação salvadora”, lamentou Jean Su, do Center for Biological Diversity, ao Guardian.

 

ClimaInfo, 11 de agosto de 2022.

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